ALGUNS TÓPICOS DA OBRA - O PRISIONEIRO DO MEDO
CAPÍTULO 9
"A coisa que eu mais queria, era poder me sentir mais calma na hora do pânico, assim eu poderia controlar minhas emoções e usar as técnicas, mas eu ficava tão desesperada pensando que ia perder o controle, que não conseguia fazer mais nada. No dia em que parei de tentar fugir das sensações e não me preocupei em 'perder o controle', comecei a recuperá-lo." Depoimento em um grupo de auto-ajuda.
Todos os livros que li dedicam extensos capítulos à maneira que nós pensamos e para o tipo de Diálogo Interno que mantemos. Isto porque, em qualquer tipo de terapia ou tratamento que você procurar aqui nos Estados Unidos para Síndrome do Pânico, uma das primeiras coisas que vão ensinar é como RECONHECER E MUDAR SEUS PENSAMENTOS.
O objetivo aqui é reconhecer quem está falando ao nosso ouvido, se uma voz positiva e otimista ou uma voz negativa e pessimista, analisar as situações e transmitir as informações ao cérebro. Quando eu tinha um ataque e dizia: "Eu não vou agüentar ter esta crise de novo", já havia anulado a voz do meu otimista, e meu medo já tinha me tirado a chance de ver a situação mais claramente e qualquer chance de escolha.
Quando aceito esta visão negativa, estou negando ao meu cérebro importantes informações. Nós, as pessoas com pânico, somos rotuladas com interessantes qualidades, uma delas é a capacidade de observação dos mínimos detalhes. Prestar atenção a detalhes foi uma das armas que usei para vencer meu inimigo oculto.
Havia duas maneiras de ficar surda para meu Diálogo Positivo: a primeira era quando eu via tudo com desespero, a segunda era quando eu via tudo como vítima. Estes diálogos variavam, conforme a ocasião.
Essas vozes falavam assim ao meu ouvido:
- Oh, Meu Deus, meu coração está batendo mais forte, só pode ser porque vou ter um Ataque e este vai ser o mais terrível de todos.
- Estou chegando perto da rua em que tive um ataque de pânico na semana passada, vou ter outro com certeza, vai ser o maior vexame. NUNCA mais eu poderei sair na rua.
- A última vez que tentei não deu certo, para que tentar de novo?
- Como eu posso ser tão burra e não me lembrar do que devo fazer quando estou tendo os ataques?
- Este ataque foi o pior de todos, apesar de tudo que aprendi continuo no mesmo lugar.
- Será que eu não me canso de cometer o mesmo erro de novo e de novo?
-É melhor não errar novamente, eu não tenho capacidade para mudar, SEMPRE faço tudo errado.
Essas vozes e observações internas faziam com que o desespero tomasse conta de mim, tudo se tornava difícil, eu estava sempre esperando grandes catástrofes acontecerem, procurava sinais de problemas nas mínimas coisas. Tinha-se uma pedrinha ali na frente, aquelas vozes me diziam que era um rochedo enorme. Estes pensamentos de desespero apareciam antes que os ataques de pânico acontecessem. Eles distorciam os acontecimentos, dando-me uma visão errada dos fatos, enviando mensagens erradas ao meu cérebro.
Outras vezes meus Diálogos Internos me diziam da minha incompetência, sempre me lembrando dos mínimos erros que eu cometia, mesmo que eu tivesse acertado cem vezes antes, eles se fixavam no fracasso. TUDO que eu fazia dava errado, de acordo com eles, eu era a senhora "FRACASSO" encarnada. Como eu via tudo distorcido, sentia-me sem motivação para mudar, afinal eu era tão burra, nunca iria conseguir mudar minha vida, melhor deixar daquele jeito. E assim minha auto-estima ficava completamente anulada pela força destes pensamentos e diálogos.
Mas muito criativo, este Diálogo podia fingir que estava do meu lado e me transformar em uma coitadinha, a vítima da família, do trabalho, da vida e até de Deus. Eu ficava remoendo os seguintes pensamentos:
- Pra que tentar, você já sabe que não vai dar certo.
- Lembra a última vez? Foi horrível não foi?
-É melhor cancelar minha aula, desistir. Vou ficar na cama, nada adianta comigo.
-Nunca vou melhorar, deve haver alguma coisa REALMENTE errada comigo...
- Talvez na próxima semana eu estarei melhor...
- Se pelo menos Deus me ajudasse...
Este tipo de negativismo me levava à depressão. Eu me sentia vencida, enviando mais informações erradas para meu cérebro, continuando a me instalar um programa cada vez mais negativo.
O Diálogo Pessimista que ocorria dentro de mim era constante, fazia parte do ar que eu respirava, eu não podia me imaginar sem ele. O sr. Otimista era o que acreditava nos mínimos passos que eu dava e que me traziam esperanças e coragem para continuar lutando e aprendendo. Lendo e estudando eu tomei consciência de que ele estava afastado, esmagado pelo sr. Pessimista. Decidida a mudar, comecei a vigiar meus pensamentos com mais atenção. Resolvi que o sr. Otimista precisava estar mais comigo e comecei a brigar para afastar o Sr. Pessimista. Como eu já disse, é duro mudar velhos hábitos e eu me via o dia todo tentando monitorar meu negativismo. Hoje nem eu sei dizer como cheguei àquele estado mental, com certeza não foi difícil, nem me exigiu grandes esforços senão eu lembraria, como me lembro como foi duro sair dele.
Era um círculo vicioso. Eu começava a pensar ou prever algo horrível, percebia e tentava pensar em outra coisa, sem ver já voltava ao primeiro pensamento, e tentava de novo e de novo. Às vezes, eu orava quando via a dificuldade que estava tendo. Dizia uma oração cinco, dez vezes, muitas vezes não percebendo o significado das palavras, mas ajudava.
Nem um dos livros que li falava que o círculo tem de ser quebrado por um segundo primeiro, depois dois segundos, três, e o tempo vai aumentando vagarosamente. A gente vai recobrando o domínio, um passo de cada vez, muitas vezes, às custas de muitas lágrimas.
Quando eu ia desanimando, percebia que sr. Pessimista estava tomando conta da casa, e falava: "Vou vencer isto nem que leve dez anos." Não sei dizer quanto tempo, quantas semanas levei até realmente começar a me sentir mais em controle de minha mente, mas sei que tive de usar de toda minha força de vontade para não desistir e achar que do jeito que estava era mais fácil, pois pelo menos com "aquele" tipo de pensamentos eu estava acostumada, ou que "eu sempre fora daquele jeito mesmo.
" Mas as leituras me ajudavam muito. Uma pessoa que nunca esteve no lugar que estive poderia pensar que isso é uma tolice, falta de força de vontade, fraqueza. Não é. O sofrimento que este estado mental gera é algo indescritível e sei que ninguém quer viver em um constante inferno como eu vivia. Mas se eu, somente eu, havia criado aquilo dentro de mim, estava em minhas mãos, ou melhor, mente, destruir.
Por aquele tempo já tinha aprendido e ACREDITADO que um ataque de pânico não pode durar muito tempo, pois o Sistema Relaxante entra em ação, então pensei: "Eu realmente não preciso do medicamento, porque até ele dissolver em meu estômago e começar a fazer efeito, o ataque já passou", o que era verdade eu comprovara, " então preciso mesmo é de aprender a lidar com ele." Alguns livros falavam que eu deveria tentar lembrar-me das imagens que criava quando fazia o relaxamento, tentar lembrar de mim na praia, tentasse não ficar com os músculos tensos, pois o ataque de pânico só pode ocorrer se estiver tenso, dizem:"Não se pode ficar tenso e relaxado ao mesmo tempo, então relaxe e o ataque não vai acontecer." E eu pensava: "Esta pessoa escreve isto porque nunca teve ataques de Pânico, ou saberia que não funciona. Imagine se vou ter condições mentais para me imaginar em uma praia, quando sinto que estou morrendo, ou quase implodindo? Isto pode ter funcionado com outros pacientes mas não comigo." Mas lá no fundo do meu coração eu repensava: "Estes psiquiatras, psicólogos têm tratado centenas de pacientes, deve ter dado resultado, ou eles não estariam escrevendo isto em um livro!" Eu ainda não estava preparada para enfrentar o Pânico daquela forma, mas chegaria lá.
Resolvida a cortar ligações com Sr. Pessimista iniciei minhas tentativas. E lá estava eu tranqüila e feliz na fila do supermercado e de repente: Boom, sem mais nem porque meu coração disparava, e eu já começava a procurar as outras sensações:"Oh, não, meu pescoço já está rijo, meu estômago está estranho, a cabeça doendo, que medo horrível. Não, de novo não!!!" A primeira vez que um ataque aconteceu depois desta minha leitura sobre Diálogos Internos, obviamente não lembrei de nada e me comportei como o habitual, tentei fugir, deixei me envolver prestando cada vez mais atenção às sensações que me dominavam, chegando ao desespero costumeiro e me sentindo arrasada como sempre. Aí Sr. Pessimista veio logo criticando:
"Você é a mais incompetente pessoa do mundo! Leu isto ontem e não pôde se lembrar de nada! Não tentou UM pensamento positivo, você nunca…" Eu percebia o que estava acontecendo e desligava a chamada dele, substituindo-a por: "Cale a boca perdedor. Eu estou me preparando para mudar e sei que vou conseguir, não foi hoje, mas na próxima vez eu estarei mais preparada e tentarei de novo." Meu Deus, como me senti bem ! O efeito positivo daquela pequena atitude foi como uma vitória. Eu estava mudando alguma coisa. "Aguarde-me, Pânico, estou me preparando para você."
No próximo ataque, já consegui uma pequena mudança. Quando ele começou, fiquei toda tensa. Eu tentava não me deixar enlouquecer por aqueles pensamentos e colocar ao menos um pensamento Positivo naquele meio todo. Não era muito, era uma mudança, pequena, mas era alguma coisa. Estava dirigindo, quando a coisa começou, eu tive tempo de pensar: "De novo. Deixa ver se me lembro de algo. Respire fundo...Isto não vai me matar, é muito desagradável, mas vai passar.
Por agora eu prefiro ir para casa. "E tive outro ataque. Mas se eles aqui chamam isto de uma espiral, que começa com algo pequeno e vai se desenvolvendo, eu quebrara o círculo, por um momento, e este era o caminho que me guiaria para a cura. Pequenos momentos de controle no meio do que parecia incontrolável. Esta foi outra vitória. Eu sentia que poderia, que se continuasse tentando, com todas as minhas forças, poderia vencer". |