O seu copo está meio vazio ou meio cheio?
Por Silvana Prado
Agosto de 2015 terminou de forma meio dramática para mim. Chegando a uma casa que minha família tem em Jeriquara, notei que ladrões haviam invadido a casa. Chamo a polícia, que me pergunta se roubaram algo e se precisavam ir lá. “Que é isso?”, eu respondo, “estou aqui na rua sozinha e você quer saber se foi roubado algo? Para isto eu preciso entrar na casa sozinha, e se o ladrão estiver lá? ”
Resposta: “Estes ladrões aqui da cidade não machucam ninguém, pode entrar lá e ver se roubaram alguma coisa! ”
Para tornar uma longa conversa curta, eu disse que ficaria esperando do lado de fora. Depois de mais de 40 minutos esperando, a polícia chega e descobrimos que, além de diversos objetos da casa, foram furtados mais de 50 brinquedos que eu estava juntando para distribuir no Natal que faço todos os anos naquela cidade. Devo dizer que os policiais foram muito atenciosos e sou grata a eles pelo esforço que fizeram.
Peguei uma gripe fortíssima não só de ficar esperando naquele tempo frio de quinta-feira, mas pelo desgosto de ver que perdi os brinquedos que era para levar tanta alegria às crianças carentes da cidade.
Lembrei-me de uma estória do livro A Cabala do Dinheiro , por sinal lindíssimo, aconselho a todos lerem. Na estória um rabino chega em casa e os ladrões haviam ensacado grande parte dos bens que ele possuía na sua casa. Os ladrões ficam com medo, mas o rabino diz a eles: “Se vocês já estavam saindo com estes objetos eles já não me pertenciam aos olhos de Deus, podem ir em paz e levar tudo o que pegaram”.
Então, infelizmente não sou esta criatura abençoada da estória e fiquei com uma raiva danada, e provavelmente por isto peguei o resfriado, a raiva detonou meu sistema imunológico, mas eu aceito a raiva que senti, os sintomas do resfriado nem tanto.
Algum tempo atrás teve um livro de muito sucesso chamado: Quando Coisas Ruins Acontecem Com Pessoas Boas, nunca o li, mas foi um best-seller e a verdade é esta: achamos que pessoas boas têm de ser protegidas por Deus e as ruins castigadas.
Muita gente é boa porque tem medo do inferno ou do umbral, se não tivessem medo não sabemos quem elas seriam. O medo de ser punido se torna um freio na sua agressividade, mas quem são na verdade? O que fariam se não tivessem medo? Seu eu verdadeiro está oculto pelo medo, mas um dia pode se revelar e então... cuidado.
Aprendi há muito tempo que pessoas boas podem sofrer muito. Quantas mulheres querem ter um filho enquanto outras têm uma gravidez atrás da outra, abandonam, às vezes abortam, e daí?
Quantos homens honestos passam a vida trabalhando para tiranos que exploram seus funcionários até o último segundo da aposentadoria?
A verdade é que não importa quão bom você seja, o sofrimento vai te pegar algum dia, de uma forma ou de outra, e a única escolha que você terá é: como vou reagir a isso?
E temos duas escolhas: vamos berrando, amaldiçoando, gritando, nos sentindo vítimas (ai, coitadinha de mim, eu não merecia...) ou vai em paz, como um herói.
Costumo dizer que desafio o sofrimento, desafio a vida, quando chega algo difícil eu sempre digo: “Pode me testar Universo, sou forte, dou conta! ”
Assumindo uma atitude como esta metade do problema está resolvido, não é verdade?
E chego finalmente àquela interpretação que as pessoas fazem do copo com água: está meio vazio ou meio cheio?
Vamos avaliar: eu cheguei na casa um dia antes do previsto, para preparar a reunião que ia fazer para celebrar meu aniversário, adoro acordar naquela casa no meio das árvores, os pássaros cantando, por isto fui antes, e, quando cheguei, pelo jeito tinham entrado há pouco tempo, pude evitar que levassem tudo,
não fui agredida, e os dois ladrões foram presos na mesma noite por uma grande sorte do destino. Não recuperei os brinquedos, pois já os haviam escondido, mas eles irão parar nas mãos de algumas crianças, com certeza.
Escolhi ver meu copo meio cheio ao invés de meio vazio. Escolhi contar as bênçãos ao invés das perdas. Apesar de eu ter cancelado a festa do meu aniversário alguns amigos resolveram ir me dar um abraço e agradeço a estas pessoas maravilhosas estarem do meu lado há tantos anos.
Ufa, enfim agosto acabou e entro setembro de alma limpa, pensando que, se a bondade não é garantia de felicidade é uma obrigação, e que a vida é mesmo um copo meio vazio ou meio cheio... O meu continua meio cheio.
Muita paz
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