Os avanços médicos recentes e a grande quantidade de drogas novas usadas para o tratamento das variadas doenças ameaçam “medicamentar” cada comportamento e condição humana, de acordo com alguns especialistas.
E ainda afirmam que o avanço da genética poderia eventualmente significar que as pessoas aparentemente sadias serão taxadas como “doentes” décadas antes de um diagnóstico confiável.
Pesquisadores internacionais avaliam os prós e contras dos testes genéticos para diagnosticar doenças, informações sobre medicamentos através de propagandas e, o que alguns pensam, a tendência de transformar problemas cotidianos em condições médicas que necessitam de tratamento – por exemplo, de calvície a problemas sexuais.
Em uma pesquisa realizada por uma revista sobre o que as pessoas achavam que eram as “não doenças”: que mais causavam preocupação para elas, foram citadas: calvície, sardas, celulite, tamanho do pênis e a raiva no trânsito. O mais votado foi o envelhecimento.
Um jornalista australiano descreve o que enxerga como sendo alianças informais entre as companhias de medicamentos, médicos e consumidores. Eles argumentam que as companhias de medicamentos pedem a especialistas e grupos de pacientes para que apareçam como vítimas de alguma doença ou para confirmar uma condição severa e atrair a atenção da pessoa que acaba indo buscar tratamento.
Os autores também relatam vários exemplos: como a perda de cabelos e timidez excessiva – que podem ser consideradas como condições humanas naturais, mas estão se tornando condições médicas, porque agora existe uma nova pílula para tratá-las.
Em um artigo canadense de Mintzes, argumenta-se que a propaganda da droga prescrita aos consumidores – permitido atualmente apenas nos USA e Nova Zelândia – está ajudando a medicamentar “experiências humanas normais.”
Pessoas relativamente saudáveis são os alvos, pois existe a necessidade de retorno adequado para as campanhas comerciais que são muito caras.
A maior parte do dinheiro das propagandas é investido em medicamentos novos e caros, visando o uso em longo prazo para um grande número de pessoas, como, por exemplo, medicamento para colesterol, impotência e ansiedade.
E enquanto os estudos provam que estes medicamentos funcionam, as propagandas atingem uma parte da população maior do que a necessária, conforme mostram as evidências.
Foram citados os medicamentos para baixar o colesterol; por exemplo, diz-se que a evidência de que eles reduzem o risco de mortalidade cardiovascular é “muito melhor” para pacientes com a doença. Porém, as propagandas atingem uma população muito maior.
Em oposição a tais opiniões, uma companhia de medicamentos argumenta que a propaganda ao consumidor contribui para ele que possa tomar decisões sobre sua saúde e tratamento.
As evidências mostram que existe uma falta de diagnóstico para muitas doenças que trazem risco de vida e que existe tratamento. Porém, Mintzes argumenta que as propagandas e especialistas na saúde pública geralmente possuem diferentes visões sobre como as enfermidades devem ser tratadas.
Outros falam que, como a medicina tem livre acesso à propaganda, tem também se envolvido profundamente na vida sexual das pessoas. Quando surgiu o Viagra, o medicamento para disfunção de ereção e impotência, ele se tornou o medicamento mais popular de todos os tempos.
Enquanto muitos homens com problemas de ereção agradecem à pílula azul, eles dizem que os avanços da medicina ignoram as dinâmicas dos relacionamentos e outros fatores que se enquadram no comportamento sexual.
Os especialistas da saúde pública de UK relatam que as cirurgias ginecológicas que visam aumentar o prazer sexual estão aumentando. Nos EUA, cerca de um terço dos homens e mulheres, alegam ter uma disfunção sexual, o que significa um sinal de uma nova obsessão com a gratificação sexual e o sentimento de inadequação.
Hart, da Universidade de Glasgow, disse que sua preocupação é no uso do termo disfunção sexual, que está sendo usado para cobrir uma grande variedade de comportamentos ou sentimentos que podem ser naturais para algumas pessoas – como, por exemplo, a libido ter diminuído em uma relação mais duradoura.
“Se as pessoas estão em relacionamentos amorosos felizes, no qual o sexo com o passar do tempo tem uma ocupação menos importante, isto não deveria ser visto como problemático ou disfuncional”.
Olhando um pouco para o futuro, especialistas dizem que os testes genéticos “podem criar uma nova onda” de medicamentos. Com a exceção de um número pequeno de condições médicas não se pode prever se uma pessoa irá desenvolver uma doença.
Para doenças com múltiplos fatores desencadeantes, incluindo as cardiovasculares e o câncer, a pesquisa para o gene relacionado à doença pode apenas dar informações sobre os riscos nas estatísticas.
“Os testes genéticos para doenças que talvez não apresentem sintomas, durante meio século ou mais podem servir de exemplo para um processo de medicalização prematura – de colar a etiqueta da doença antes de ter sido estabelecido que a prevenção ou tratamento é um benefício”.
As tecnologias genéticas escrevem os autores, podem ser “um grande benefício para a sociedade, mas sua introdução deve ser analisada… e mais importante, baseada em evidências”. |