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ALÉM DO ALCANCE DA SUPERFÍCIE DOS OLHOS 29/1/2010

Aaron Beck, é um dos grandes pioneiros da psiquiatria contemporânea. Quase sem ajuda, aos 25 anos, desenvolveu uma nova forma de psicoterapia que trazia em si, desde o início, a validação empírica de seus benefícios.
Beck graduou-se em Yale Medical School em 1946. Iniciou sua carreira estudando neurologia, mas mudou para psiquiatria, e foi por dois anos, um dos membros da equipe de Austen Riggs, um hospital psicanalítico particular localizado em Berkshires. Mudou-se para Filadelfia em 1954, quando se afiliou a Penn e entrou no Instituto Psicanalítico, graduando em 1958.
Dr. Beck estava interessado em pesquisa. Seu primeiro estudo publicado foi uma tentativa de determinar se era possível medir o conceito freudiano de “agressão contra si mesmo” como maneira de explicar a depressão. Beck estudou os sonhos de pacientes depressivos, mas suas conclusões não deram suporte às teorias de Freud. Nesta época ele se viu forçado a se afastar da psicanálise e desenvolver suas próprias idéias.

Dr. Beck descreveu o grupo de analistas com quem ele trabalhou como bem intencionado, mas com falta de treinamento em pesquisa formal e falta de noção de dúvida e auto-critica. Quando alguma pesquisa do Dr. Beck falhava em confirmar a teoria, diziam para ele: “Procure com mais profundidade”. Anos mais tarde, ele usaria uma frase totalmente contraria em suas palestras: “Existe mais do que pode ser trazido à superfície do que ao alcance dos olhos”. (There´s more on the surface than meets the eye".)
Beck baseou suas observações clínicas cognitivas na observação dos pensamentos automáticos e nas auto-analises negativas de seus pacientes com depressão. Ele foi influenciado pelo trabalho do psicólogo George Kelley (1905-67), um professor que escreveu um livro chamado: "The Psychology of Personal Constructs".

Depois de praticar analise no primeiro ano de sua carreira, Beck começou a pedir a seus pacientes que se sentassem e focassem nas distorções negativas que existiam nas suas relações interpessoais. No inicio esta idéia era só para fazer um adendo a analise. Eventualmente ele percebeu que “a teoria analítica” não era comprovável pelas hipóteses, não havia consistência entre o material clinico de um analista para outro, e os métodos de tratamento não eram confirmados serem efetivos. Ainda que Beck eventualmente abandonasse sua participação no American Psychoanalytic Association, ele serviu como membro por anos na mais liberal American Academy of Psychoanalysis. Ironicamente, o livro que introduziu seu novo modelo terapêutico, depois de rejeitado por 12 outras editoras, foi editado pela maior editora analista, a International Universities Press, que teve lucros
significantes com esta decisão.

O modelo de Beck foi transmitido por seu programa de treinamento e pesquisa iniciado em 1976. Beck diz que ele foi beneficiado por Penn, que nunca foi dominada por psicanálises, e que os diretores encorajavam pesquisas. O maior pupilo e protegido de Beck foi John Rush que se tornou professor de psiquiatria em Dallas
Aron Beck conseguiu mais apoio da psicologia do que da psiquiatria. Seus maiores oponentes, ironicamente, eram os comportamentais clássicos que tinham dificuldade em aceitar o modelo cognitivo. Terapia comportamental estava sendo já ha. longo tempo o nicho favorito para psicólogos clínicos.

Terapia Comportamental é baseada na teoria do aprendizado, particularmente, no clássico trabalho de Pavlov e B.F. Skinner. Seus métodos clínicos geralmente consistem em técnicas para reduzir a ansiedade, enquanto expondo os clientes ao estimulo temido. Hans Eysenck (1916-97), conhecido psicólogo inglês, acreditava que terapia comportamental era efetiva para quase todo tipo de sintoma psicológico. Eysenck, que criticava a psicoterapia dizendo que ela não era mais efetiva do que a recuperação natural, passou o resto de sua carreira promovendo a terapia comportamental e sua eficácia.

Poucos psiquiatras aderiram ao campo comportamental, mas Alguns psiquiatras trabalharam na área comportamental, incluindo a notável figura de Joseph Wolpe (1915-97) , um pesquisador da parte Sul da África, cujos trabalhos foram desenvolvidos na Philadelphia. No entanto, e por muito tempo, a terapia comportamental foi o substrato e o subsidio para os estudantes da psicologia clinica. Hoje em dia, as restrições da Terapia Comportamental parecem historicamente tão anacrônicas quanto às versões iniciais da Psicanálise de Freud.

Psiquiatras, cujas especialidades dependiam de sua habilidade de acessar o funcionamento mental, nunca a colocaram de forma atrativa. Mas enquanto a psicologia seguia no caminho para desenvolver a teoria cognitiva da mente, o modelo clássico comportamental foi gradualmente sendo substituído pelo método hibrido das Terapias Cognitiva e Comportamental, criado por Beck. Um autor sugeriu que Terapia Cognitiva e Comportamental, cuja característica se foca em estruturas mentais, pode ser considerada a “revisão da psicanálise.”

Psicólogos, particularmente aqueles com pós-graduação, são treinados a terem mais respeito por pesquisa do que médicos. Na medida em que as descobertas empíricas de Beck foram aceitas e publicadas dentro da psicologia, as pesquisas na área da TCCs também passaram a ter maior aceitação. Somente mais tarde, com a medicina e a psiquiatria se tornando mais baseadas em evidencias, os estudos em TCCs começaram a aparecer em jornais famosos de psiquiatria. Residentes agora aprendem o método, se não o recebem, exigem por ele.

Segundo ainda Dr. Beck, a psicanálise contemporânea mudou, levando em conta mais a realidade ao invés de se focar exclusivamente em fenômenos intra-psíquicos. Suas analises ainda contrariam psiquiatras, por causa de seu humanismo, mas suas bases se tornam cada vez mais finas. Beck acredita que no futuro, existirá só uma forma de psicoterapia, com algumas variações de “boutique”, e este tratamento modelo que surgirá provavelmente irá incorporar algumas das principais idéias das Terapias Cognitivo e Comportamental.

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