O uso contínuo das drogas pode queimar etapas de vida de um jovem, fazendo com que ele envelheça no único lugar onde não é permitido envelhecer, no território da emoção. – Augusto Cury
Comentários sobre o livro de Augusto Cury – O Cárcere das Emoções Silvana Prado
A pior prisão humana é o cárcere da emoção e normalmente quem aprisiona a emoção são os pensamentos negativos. … O mundo moderno virou uma fábrica de pessoas estressadas, e mesmo pessoas com uma boa estabilidade emocional durante seu crescimento, podem quando adultas, devido ao estresse profissional e social, desenvolver arquivos doentios nas matrizes de memória, o que poderá levar a crises constantes de pânico, depressão, e outros transtornos mentais.
O pior prisioneiro é o que não consegue enxergar seus próprios limites. O pior doente é aquele que represa suas emoções e tem medo de admitir suas fragilidades, fracassos e momentos de insegurança… Que destino você dá aos seus erros? O que você faz com as dores emocionais que vivencia?... Infelizmente, raramente somos eficientes em dar um destino lúcido às nossas falhas e sofrimentos. Sabemos lidar com os sucessos, mas estamos despreparados para as derrotas.
- Há muitos tipos de “drogas” e não apenas as químicas, que trucidam a liberdade e fazem a emoção se submeter à pior prisão do mundo: a “droga” do medo, do sistema social, da paranóia da estética, do consumismo, da competição predadora, da necessidade de estar sempre certo. Augusto comentou que raramente uma pessoa que mergulha nas drogas não pensa em suicídio. Depois de buscar a “liberdade” nas drogas, se torna prisioneiro delas, pois só passa a ter prazer ao usá-la. Ele também fala em psicoadaptação, que descreve como sendo a incapacidade da pessoa (emoção) humana de sentir prazer ou dor, frente à exposição ao mesmo estímulo.
Hoje, na busca constante pelo prazer externo, caímos no vazio do consumismo, na fuga pelo sexo desenfreado, sempre buscando na nova compra ou parceiro, o preenchimento de um espaço que só pode ser preenchido pelo que não se compra! Aí nos comparamos aos que usam drogas, viciados em comportamentos que nos satisfazem instantaneamente e com a mesma rapidez com que nos satisfazemos caímos novamente no vazio, e vamos novamente à busca de nossa “droga”. “Quanto mais uma pessoa tiver dificuldade em extrair prazer daquilo que possui, mais infeliz e angustiada será…” diz o autor.
O fenômeno da psicoadaptação contribui para gerar o tédio, a rotina, a mesmice e solidão o que, num ciclo vicioso, o leva a buscar mais coisas para estimular os sentidos e conseguir o prazer instantâneo:- o carro, a roupa, o novo modelo do celular.
A psicoadaptação também terá outra conseqüência séria para o usuário de drogas, não compreendida pela maioria dos psiquiatras e psicólogos: à medida que o usuário se submete ao intenso efeito da droga, vai se adaptando a elas e só consegue se excitar frente a um estímulo potente. Como poucas coisas do dia-a-dia estimulam como a droga, o usuário acaba perdendo o prazer produzido pelas pequenas coisas, que são as conquistas verdadeiras. Quando iniciam o uso, sentem-se imortais, zombam dos caretas do mundo, mas ao acordar descobrem que perderam o mais nobre dos direitos humanos - a liberdade. O uso da droga é um desrespeito à própria inteligência.
Porque o problema de drogas é tão difícil de ser tratado? Porque ele não está na droga enquanto substância química, diz Cury, mas no rombo que elas produzem no inconsciente. Na memória anônima arquivada na mente. Infelizmente não podemos escolher o que será gravado na memória: ela grava tudo! A intensidade desta gravação varia: as mais dolorosas e prazerosas são registradas mais intensamente. “… Toda vez que temos uma experiência com alto comprometimento emocional… O registro será privilegiado. Por ser privilegiado, tal registro pavimentará as avenidas importantes da nossa maneira de ser e agir do mundo”, diz Cury.
As pessoas dependentes de drogas envelhecem no único lugar onde é inadmissível envelhecer - o território da emoção. Muitas delas possuem uma quantidade enorme de experiências emocionais, mais do que as pessoas bem mais velhas. Estão saturadas de ansiedade, humor deprimido, desespero, situações de risco. Elas acabam produzindo um filme de terror dentro de si mesmas e, para a recuperação não basta afastar-se das drogas, é preciso reaprender a viver, a apagar as lembranças negativas para que as boas possam fluir novamente.
No trabalho que estamos realizando na AMAFEM, pudemos notar muito do que Cury escreve. Pelo que sei a única coisa realmente capaz de “apagar” arquivos negativos é a meditação. Os 12 anos de prática constante ensinaram-me não só que a meditação traz aceitação: quando não existe mais medo nem luta contra a memória ou emoção, você a domina e se liberta dela - a lembrança não precisa mais ser constantemente repetida na memória. Ela pode ser substituída por outras lindas que causam cura da mente e em conseqüência do corpo.
Na última reunião que fizemos fomos trabalhar na meditação “Meu pior momento”. O trabalho foi desenvolvido com base em um seminário de Jack Kornfield, um dos maiores mestres de meditação nos Estados Unidos: Em “A Path With a Hearth” (Um caminho com o coração) ele conta a experiência de um soldado na guerra e como este soldado através da meditação se libertou de seus anos de pesadelos. As histórias das meninas são certamente as mais tristes que já ouvi em 5 anos de grupo APOIAR. Nunca tive contato com tanta dor, como naquela hora de narração. Histórias que parecem acontecer só em filmes, tornaram-se realidade na frente de nossa equipe de voluntários.
Enquanto os fantasmas estiverem presos nas nossas mentes, seremos perseguidos, amedrontados, escravizados pelas memórias. Quando os soltamos, eles, no primeiro momento, se tornam mais barulhentos, para depois irem desaparecendo como sombras que se vão com a chegada da luz. Como uma das meninas disse:- “Um dia percebi que cheguei ao porão do fundo do poço”. Eu não sabia que fundo de poço tem porão, mas ela descobriu, e os nossos fantasmas normais, se tornam pequenos frente aos fantasmas do porão delas.
Estamos realizando um trabalho novo, é certo, não sei se no Brasil existem estudos sobre efeitos de meditação na recuperação de drogas, mas como acredito que tudo que é feito com amor frutifica, a esperança brilha nos nossos corações, na certeza de que onde haja vontade existirá mudança, onde houver luz a escuridão será eliminada. |