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Estresse X Trabalho - Entrevista com Dr Luis antonio martins costa

Doutor o senhor poderia se apresentar?
Dr. Luis. Meu nome é Luis Antônio Martins Costa, sou médico especialista em Gastrocirurgia, Endoscopia Digestiva, e Médico do Trabalho por opção. Atualmente sou responsável pelo Ambulatório de Saúde Ocupacional da Prefeitura de Franca, atuo como perito judicial, e presto assessoria á várias empresas da cidade na área de Saúde Ocupacional Franca.
O senhor esteve no congresso recentemente, eu gostaria que o senhor comentasse brevemente sobre o que, que foi este congresso?
Dr. Luis. Este congresso foi o 12º Congresso da Associação Nacional da Medicina do Trabalho, e os temas abordados foram exatamente o papel do médico do trabalho na atual conjuntura, em relação, a intermediação entre a organização que é a empresa e as peças chaves que são os trabalhadores.
O que chamou mais atenção do senhor neste congresso?
Dr. Luis. Realmente, foi um ótimo congresso. Tenho um modo particular de encarar as doenças, principalmente as ligadas ao trabalho, e as tendências atuais na perspectiva dessas doenças, e que são comuns a todas  pessoas, é a importância do envolvimento emocional. Houve, como se fosse um divisor de águas, de conceitos que eu vi antes do congresso e depois do congresso, isto porque formou-se consenso entre as maiores autoridades no assunto no Brasil e também no exterior, sobre a valorização do ser humano e a relação de seus conflitos na sua vida fora da empresa, enquanto dona de casa, enquanto marido, enquanto componente de alguma organização, e até que ponto esses conflitos fora do trabalho, podem estar associados á doenças desencadeadas pelo trabalho. Aí se encaixa o importante papel do Médico do Trabalho contemporâneo, que seria equacionar, até onde é o trabalho que provoca algum tipo de patologia, e onde são as intercorrências da vida cotidiana é que desencadearão qualquer tipo de doença, e ainda em que momento ocorre à intersecção dos dois fatores. Em tese, a valorização clinica é exatamente em cima dos conflitos emocionais, suas origens e a percepção do médico do trabalho para catalizar e intermediar, evitando que o indivíduo desenvolva a doença, ou pelo menos minimizar os sintomas que ele já apresenta , buscando sua cura.
Você comentou uma coisa muito interessante que eles fizeram um estudo com pessoas de telemarketing, você pode repetir isso para o leitor?
Dr. Luis. Sem dúvida, entre as coisas mais discutidas, foram as "novas doenças", relacionadas ao trabalho, cuja incidência tem sido grande, e isso faz parte exatamente do tipo de organização da empresa moderna, ou seja, a pessoa tem que ser multiqualificada, tem que ser ágil, e suportar uma carga de trabalho exaustiva. Mesmo que não seja muito prolongada, a carga emocional é muito grande, e o exemplo que foi dado foi o sobre operadores de Telemarketing ( Call-centers) onde existem metas a serem cumpridas: trabalham em média mais de seis horas, são obrigados a atender as ligações sequencialmente, mas têm um tempo limitado para fazer este atendimento. Na mesa, na frente do operador, fica um cronômetro que marca no Maximo um a dois minutos e é disparado ao atender a ligação. Este cronômetro tem uma área verde, na seqüência amarela, e quando chega no limite o vermelho, e caso o operador não resolva o chamado já vem à supervisão para cobrar o rendimento. Ao mesmo tempo têm que ouvir a reclamações, na maioria das vezes durante as reclamações as pessoas são agressivas, elas tem que absorver isto, dar uma resposta eficiente, procurar dados no computador, tudo ao mesmo tempo, enfim é uma série de atividades  existindo uma pressão muito grande em cima disso é que aparecem os conflitos emocionais, sem considerarmos, que esse operador (a) como toda pessoa comum tem problemas do cotidiano e pessoais. Esse é apenas um exemplo da escravização que o progresso esta trazendo para pessoas.

Apoiar - Você citou também que depois das empresas criarem todo equipamento adequado de proteção da pessoa, eles estão notando que duas pessoas estão no mesmo posto de trabalho, usando o mesmo equipamento, uma tem o problema físico como por exemplo dor na coluna, outro não tem, você poderia comentar sobre isto?
Dr. Luis. É como eu disse, o marco divisório pelo menos para mim, que já trabalho há quase 20 anos na área da medicina no trabalho, é que nós sempre super valorizamos o problema material, é a mesa, é o equipamento, é a construção da fábrica, mas infelizmente a análise do ser humano é que sempre ficava em segundo plano. Está provado que este conceito deve ser mudado, lapidado, porque enquanto não entendermos o que está se passando na vida daquele indivíduo, suas as emoções, seus conflitos, seus anseios, dificilmente vamos entender porque em uma mesma máquina tem alguém que fica doente, e outro não fica. Obviamente existem as conotações de ordem pessoal, de estrutura orgânica, caracteres familiares, mas o consenso atual sedimenta que a origem das doenças do trabalho, ou não, é a grande importância que tem o conflito emocional.
E você comentou que tem o Dr. antes do congresso e depois do congresso, o que mudou essencialmente em você com essas informações que você recebeu?
Eu acho que o Dr. tem que se levantar da cadeira não só para falar bom dia, ou até logo. Ele tem, que principalmente no meu caso , enquanto Medico do Trabalho ir ao posto de trabalho conversar com o indivíduo saber das aspirações dentro do trabalho, o que está afligindo principalmente fora do trabalho, porque se ele tem uma jornada de seis a oito horas, as outras dezoito horas ou dezesseis horas do dia, e finais de semana, ele está passando na sociedade, na sua casa, com sua família, seus amigos, na cidade, então é exatamente a carga desses conflitos que o atingem fora da empresa.
No seu trabalho ele já tem que cumprir uma meta, mas suas metas pessoais, frustradas por motivos vários, na somatória é que são grande vilão, na origem de inúmeras patologias, que embora tenham várias classificações, na realidade advêm de conflitos e ansiedades que têm que ser detectados e trabalhados. É por aí, que o Dr. depois do congresso, agora vai tentar abordar, sem margem de dúvida.
Mas alguma coisa que você queria comentar sobre o congresso que não perguntei?
Dr. Luis. Nós estamos falando muito do congresso, mas a realidade do dia-a-dia, a gente tem que, como um dos palestrantes mesmo afirmou, usando parte da letra de uma canção antiga que fala que a gente é um eterno aprendiz, então a vida vai mostrando alguns caminhos à gente tem que tentar optar o melhor. Lógico não só em termos de satisfação pessoal, mas em termos de responsabilidade e cidadania. No meu caso me vi obrigado realmente a aprofundar em cima disto, procurar alternativas porque você só vai ser realmente médico a partir do momento que para de dar receitas e procurar de uma forma mais abrangente ajudar a quem você está assistindo ou a que veio te procurar. Só para complementar, coincidentemente na minha volta, já vim seriamente pensando nisto, no investimento de melhoria de qualidade de vida para todos que assistimos, foi quando tive contato com as metas do Grupo APOIAR, e tive oportunidade e a felicidade de participar de um desses encontros e conhecer a gama de opções que no verdadeiro apoio ao ser humano. Isto vem de encontro com algo que eu iria buscar, e desta forma acho que vamos encontrar no APOIAR, como a própria palavra já diz, um respaldo, que seria muito difícil a gente conseguir, pois seria de uma forma, digamos fragmentada, pois necessitaria do psicólogo, do fisioterapeuta, do acupunturista, e no Grupo APOIAR existe essa abordagem holística que inclusive é um conceito atual, onde você realmente tem que ajudar a pessoa a achar seu próprio caminho, de uma forma humanitária, ética e ao seu alcance, independentemente das suas possibilidades financeiras. Não vou falar em tratamento alternativo, pois para alguns profissionais o termo fica pejorativo, mas um tratamento que seja realmente eficiente e que não agrida a pessoa, nem seu organismo, porque não vai ser uma "pá" de remédios que vai resolver o problema se você não conseguir atingir a origem, e orientar a pessoa como ela vai poder realmente racionalizar e monitorar os problemas que estão a afligindo hoje e sempre surgirão na sua existência.
Então o negócio é mesmo prevenir?
Dr. Luis. Como o negócio é prevenção, a meta tem que ser apoio e o grupo APOIAR não só atua na prevenção, como atua na reeducação, digamos mental do indivíduo, mostrando que esse é o canal, porque se a pessoa vem errando, e de certa forma você poder dar o "norte" e os parâmetros, para ela de alguma forma mudar e tomar outra postura de vida, que imagino é o que todo mundo quer, esse caminho sem dúvida nós vamos poder encontrar e conseguir maravilhas através desse suporte.

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