1 2 3
Artigos

A depressão no homem - entrevista com Dr. Danilo vaz

DEPRESSÃO EM HOMENS

 

APOIAR – Dr. Danilo, o senhor estará fazendo uma palestra no dia 29 próximo, o tema será depressão em homens, qual a importância da abordagem deste tema?
Danilo – É importante salientar que a depressão é um problema de saúde pública segundo a Organização Mundial de Saúde, é uma das doenças mais incapacitantes. 16% da população terá pelo menos um episódio de depressão ao longo de sua vida. Em relação ao homem, segundo as pesquisas, a proporção em relação de homens com depressão e mulheres é de 1 para 2, ou seja, o dobro de mulheres tem depressão. A grande questão é que os homens, até pela nossa formação cultural, tem mais dificuldade de falar de suas emoções e sentimentos o que dificulta o diagnóstico.

APOIAR – Como o homem sabe que está com depressão?
A depressão se caracteriza por vários sintomas: de tristeza, auto-estima baixa, desmotivação, muitas vezes a insônia, irritabilidade, e muitos sintomas psicossomáticos, como dores musculares, de cabeça e gastrointestinais. Geralmente a dificuldade é que quando o homem procura um serviço de ajuda ele fala mais dos sintomas físicos, e geralmente deixa de falar dos sentimentos de tristeza. Então ele deve procurar ajuda quando perceber que estes sintomas têm dificultado sua vida, seu trabalho seu relacionamento, porque ele fica mais irritado, mais isolado, neste ponto deve procurar ajuda.

APOIAR – Quais a conseqüências da depressão não tratada no homem?
Dr Danilo – O grande problema, dependendo do grau da depressão, é que ela pode ser incapacitante, ou seja, muitas vezes a pessoa não consegue trabalhar, acaba se isolando, aumenta o risco de suicídio, de abuso de substâncias tipo álcool ou de drogas. É importante salientar que a depressão é uma das maiores causas de suicídio.

APOIAR – Dr. Você falou em graus de depressão, poderia explicar quais são estes graus?
Dr. Danilo – A depressão tem diversos graus de gravidade, ou seja, você pode ter uma depressão leve, por exemplo, depois de uma situação de perda, de luto, mas uma depressão que talvez não haja necessidade de uso de medicamento, mas somente uma psicoterapia de apoio, existe depressões graves que são incapacitantes e estas sim necessitam de acompanhamento medico e uso de medicação. É fundamental que a pessoa que esteja com depressão procure um profissional para que seja feito um melhor diagnóstico e um tratamento mais adequado.

APOIAR – O que é dístimia?
Dr. Danilo – Para caracterizar uma pessoa como tendo dístimia, a pessoa deve estar constantemente irritada, mal humorada por um período de mais ou menos dois anos. Mas na dístimia este quadro é freqüente, diferente de uma pessoa que tem uma irritabilidade ou mau humor normais, parte do dia-a-dia.  Torna-se difícil se relacionar com a pessoa. Não caracteriza uma depressão grave, porque não chega a ser incapacitante, só que a dístimia tira a qualidade de vida da pessoa e das que estão ao seu lado. E hoje tem tratamento para dístimia.

APOIAR – Dr. Quais os melhores tratamentos para depressão?
Dr. Danilo – Gostaria de deixar claro que nem toda tristeza é depressão. Todos nós ao longo de nossas vidas, sofremos situações de frustração e perdas que geram uma certa dose de tristeza e essa tristeza pode ser um mecanismo que nos ajuda a refletir sobre nossa vida, nossas fantasias de onipotência, de que podemos tudo. Uma certa dose de tristeza, nestas perdas, nos colocam em contato com a realidade que pode ser um fator fundamental para nosso crescimento e amadurecimento como pessoas. Agora existe aquele quadro de desmotivação que torna uma pessoa incapacitada para continuar tocando sua vida, esta sim merece tratamento. A pessoa deve buscar ajuda quando sentir que suas dores emocionais, a estão impedindo que ela continue a viver de forma plena.
Hoje temos um leque grande de tratamentos para depressão. Na década de 50 surgiram os primeiros antidepressivos que são os clássicos: “os triciclicos” (imipramina, triptanol). A grande dificuldade é que estes antidepressivos geram muitos efeitos colaterais, ex boca seca, intestino preso, hipotensão (baixa pressão)... Na década de 80 começaram a surgir os antidepressivos mais modernos que são os antidepressivos da nova geração, como o famoso Prozac (fluoxetina) e que tem menos efeitos colaterais, e surgiram, após a fluoxetima, vários outros como a paroxetina, sertralina, citalopran e atualmente alguns mais modernos como a venlafaxina, mirtazapina. A grande vantagem destes antidepressivos da nova geração é que possuem menos efeitos colaterais o que facilita a aderência ao tratamento. Não podemos esquecer também que além dos medicamentos existem as psicoterapias que podem ajudar, e muito, no tratamento da depressão. Segundo estudos atuais, os melhores resultados no tratamento da depressão ocorrem quando se faz associação do uso do medicamento com psicoterapia.

APOIAR – então doutor, medicamento não cura depressão?
Dr. Danilo – o medicamento vai com certeza amenizar os sintomas da depressão, mas não podemos esperar dos medicamentos um milagre é importante uma mudança no estilo de vida, o uso da psicoterapia, e o entendimento maior da sociedade de que depressão existe e o apoio da sociedade e da família é fundamental para que a pessoa não se sinta excluída.

APOIAR – Um dos grandes problemas do homem com depressão é que não consegue funcionar bem na área sexual, com a entrada do medicamento parece que as coisas pioram, alguma sugestão?
Dr. Danilo- Um dos sintomas da depressão pode ser a redução do libido. Tem alguns medicamentos que podem diminuir também a libido, porém com os novos estudos e pesquisas, têm surgido medicamentos mais modernos que podem minimizar estes efeitos colaterais.

APOIAR – No mês passado, o Mente Livre trouxe o resultado de alguns estudos que.
associaram suicídio a medicamentos antidepressivos, qual sua opinião sobre o assunto?
Dr. Danilo – Existe uma grande controvérsia sobre o assunto, inclusive o uso de antidepressivos em adolescentes deve ser cauteloso, porem o médico deve sempre pesar o custo benefício. A grande dificuldade é que quando a pessoa começa a sair da depressão grave, da lentificação e devido ao uso do antidepressivo, num primeiro momento ela pode adquirir energia cometer o suicídio, coisa que antes não conseguia. É fundamental orientar a família, de que, com o uso do antidepressivo na fase inicial, sobre o risco do suicídio.

voltar