QUEBRANDO O SILÊNCIO
PREVENÇÃO E TRATAMENTO PARA FAMÍLIAS QUE ENFRENTAM A DEPRESSÃO
Fonte: NAMI William Beardslee
No fim dos anos 70, comecei a conversar com pais que haviam lutado contra a depressão. Várias vezes os ouviam dizerem, “estamos com medo de que nossa doença tenha afetado irreversivelmente nossos filhos, e ninguém está nos ajudando”.
Não existe uma criança que tenha sofrido danos irreversíveis. Na verdade, existem várias atitudes a ser tomadas para promover força e flexibilidade em famílias onde os pais sofrem de um transtorno mental. Nos últimos vinte e cinco anos, tive a oportunidade de trabalhar com famílias para desenvolver e examinar algumas intervenções preventivas para ser usadas quando os pais enfrentam uma depressão.
Simplificando a questão, se você é um pai com um transtorno mental, existe muita coisa que pode fazer a favor de seus filhos. Muitas das pesquisas em neurociência durante as duas últimas décadas enfatizaram o conceito de desenvolvimento e plasticidade, ou seja, uma grande flexibilidade da criança durante seu desenvolvimento quando está enfrentando doenças ou lesões cerebrais. O mesmo tipo de flexibilidade é possível quando um dos pais enfrenta um transtorno mental sério. Apesar de haver um risco maior em crianças quando um dos pais enfrenta um transtorno mental, muitas crianças se sairão bem.
Recentemente, com a ajuda de minha equipe e colegas, fui capaz de me aprofundar neste assunto escrevendo um livro para famílias e médicos. “Fora do Quarto Escuro: Quando Um Dos Pais Está Deprimido: Protegendo as Crianças e Fortalecendo a Família” (Litlle, Brown and Company, 2002), descrevemos atitudes que os pais podem tomar quando estão lutando contra um transtorno mental e querem ajudar seus filhos.
Em primeiro lugar, é importante que os pais cuidem de si mesmos. Se você é um pai com um transtorno mental, precisa se assegurar que está recebendo tratamento adequado de alguém em quem confia. Atualmente, os tratamentos disponíveis para transtornos mentais, em geral, e a depressão, em particular, são melhores do que nunca. Em segundo lugar, é importante reconhecer que estes transtornos têm um impacto sobre os membros da família, particularmente em crianças. As crianças se esforçarão muito para entender a doença de seus pais e terão muitas perguntas sobre ela.
Os pais também precisam saber como ajudar seus filhos a terem força e resistência. Existem três áreas nas quais os pais podem ter um impacto direto sobre o bem estar de seus filhos: através do encorajamento de seus relacionamentos, de suas atividades fora de casa, e ajudá-los a entender a doença. É importante certificar-se de que os filhos não se sintam culpados e sintam-se livres para seguir adiante com suas vidas.
Uma boa parte de nosso trabalho envolve ajudar famílias a ter discussões francas e abertas sobre transtorno mental. Chamamos este processo de “quebrando o silêncio”. Quase todas as famílias que trabalhamos estão dispostas a frequentar com sucesso nosso grupo de apoio. Este envolve planejamento, dividir informação, assegurar-se de que ninguém se sinta culpado ou culpar-se pela doença, e discutir situações pela qual as famílias estão enfrentando. As famílias não precisam tentar fazer isto sozinhas. Elas podem conversar com seus terapeutas, seus amigos, ou participantes do NAMI, que possui experiência com grupos de apoio para família.
Este grupo de apoio para a família deve estar na hora e no lugar que forem determinados para conversar quando se sentir a vontade e se preparar para o que irão dizer. É importante que todos se sintam seguros e que todas as perguntas sejam respondidas, particularmente perguntas sobre o que a família têm passado.
Durante o encontro com a família, os pais devem conversar com seus filhos sobre como estão pedindo ajuda e enfatizar que irão se responsabilizar pela doença. É importante enfatizar também a força da família e lembrar-se dos bons tempos que passaram juntos. Se os dois pais estão juntos, é importante enfatizar como estão trabalhando juntos e o que estão fazendo para construir a flexibilidade dos filhos. Atitudes durante o encontro com a família que tenha sido úteis estão logo abaixo no “Durante o Encontro Com a Família”.
Tivemos o privilégio de acompanhar famílias após terem conversado com seus filhos. Argumentamos que com o tempo, a cura emergia de dentro das próprias famílias e estas conseguiam dar continuidade a um diálogo e ajudar a si mesmas. Concluímos que as crianças destas famílias crescem entendendo a doença de seus pais. Observamos que muitos pais puderam reunir-se com membros separados da família, reunir-se às suas crenças religiosas, e reintegrar-se a sua comunidade. Seus relatos corajosos de como combateram um transtorno mental e ajudaram seus filhos nos inspirou e estão interagindo através de “Fora do Quarto Escuro”.
Nosso trabalho com as famílias inevitavelmente nos levou a uma reorganização sobre os cuidados com a saúde. Enquanto trabalhávamos com as famílias, exigíamos que adquirissem um tratamento adequado para sua doença. Isto nos levou a batalhas com as companhias de seguro e a muitos esforços para dar às pessoas o tratamento que necessitavam. Levou-nos a fundar um Centro de Saúde Mental para crianças em um Hospital de Crianças, o primeiro deste tipo em um grande hospital pediátrico, e nos levou a um maior envolvimento com algumas organizações como o NAMI. Nestes períodos problemáticos após 11 de Setembro, e com a depressão da economia, a luta dos pais contra um transtorno mental está mais vulnerável, e isto é mais uma razão para alertar-se sobre como o dialogo na família é importante para promover a cura.
Planejando a reunião da família
1. Decida junto com seu cônjuge sobre o que irão conversar antes da reunião.
2. Também escolha sobre o que não discutir.
3. Não tente uma discussão familiar maior sobre depressão ou sobre a história da família no momento de crises.
4. Tente mostrar para seus filhos que você e seu cônjuge estão juntos para cuidar deles e que novos planos estão se realizando.
5. Ensaie várias vezes o que quer dizer.
6. Esteja certa ao enfatizar que ninguém tem culpa. Esta é uma doença médica e a família há de superá-la.
7. Diga aos seus filhos às providências que está tomando para protegê-los.
8. Planeje conversar mais de uma vez.
Durante a reunião familiar
1. Diga aos seus filhos quais atitudes está tomando, como a de procurar um tratamento, conversar com seu cônjuge e com eles sobre a depressão, e tente apoiai-los. Reassegure de que a vida continuará para todos vocês. Diga o que irá fazer para ajudá-los a construir flexibilidade (por exemplo: ajudar com as amizades). Certifique-se de que eles não se sentem culpados.
2. Converse sobre coisas que são inusitadas, que incomodam, e que não dá para negar, e ajude seus filhos a encontrar caminhos para entender estas experiências dolorosas para que não se culpem ou se sintam responsáveis pela dor da família.
3. Ajuda seus filhos a se sentirem à vontade o suficiente para conversar sobre o que os aflige e dirija-os diretamente às suas preocupações. |