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Silvana Prado - saber muito resolve?

Silvana Prado, opinião.
Saber muito resolve?
As cartas que eu recebo, muitas delas contam a  história de pessoas que leram meu livro O Prisioneiro do Medo e começaram a fazer mudanças em suas vidas. Para algumas pessoas é o primeiro livro que eles têm acesso e ainda assim as mudanças começam acontecer. Por outro lado, algumas cartas contam que, apesar de se ter lido todos os livros sobre pânico, nada acontece e eu fico pensando qual a diferença. Mas dá para perceber que não é a quantidade de informação e eu só posso concluir que existe uma força interior que nos guia para frente e nada externo pode fazê-la mover. 

Não é a quantidade de livros que lemos, ou o melhor médico do mundo, somos nós. Enquanto estivermos buscando esta “cura” fora de nós estaremos percorrendo uma estrada sem fim. Existe uma outra estrada, e ela tem de ser percorrida todo dia, através da prática de pequenas atitudes e exposição às situações que causam ansiedade. Não existem milagres, não continue buscar do lado de fora o que já existe dentro de você e que está só esperando para florescer.
Considerando meu trabalho:
Dando uma reavaliada em meu trabalho acabei me perguntando se o que tenho feito está certo. Eu venho insistindo que medicamento não "cura" pânico é só um band-aid no machucado. Que nós precisamos nos expor as situações, olhar o medo, aprender que o ataque não mata. Mas as pessoas não querem ouvir falar nisto, por isto tanta gente vai aos Grupo de auto ajuda e não fica. Muitos médicos têm dito ao paciente: Ei você tem um problema físico e só resolve com medicamento. E tem gente que começa a tomar medicamento e não quer fazer mais nada, bem se é físico - elas pensam - eu não posso fazer nada. 

É claro que é mais fácil tomar um remédio toda manhã, então porque eu insistia em passar outra mensagem? Exposição? Mudanças? Eu avalio muito tudo que faço e fui procurar uma resposta. Conversando com Mary Ann, líder e fundadora de grupo de auto ajuda há mais de 15 anos nos EUA, contei a ela sobre minhas dúvidas e perguntei qual a experiência dela nestes 15 anos? A solução é medicamento? 

As pessoas estavam melhorando só com medicamento? Ela falou: Antigamente, a gente via pessoas melhorando, mas melhorando mesmo. Elas vinham aqui, trabalhavam nos passos de recuperação, mudavam a vida e era incrível ver estas pessoas vencerem. Hoje é tão triste, o médico diz ao paciente que é algo físico e a pessoa acredita que não pode fazer nada, não tem esperança, já que é físico só resolve com medicamento, e medicamento é muito importante, pois se você está muito sofrido, cansado, estressado não pode reagir, e o medicamento ajuda esta reação, mas a pessoa tem de trabalhar para melhorar, senão ela acaba com as duas coisas: o medicamento e o pânico.

É claro que todos queremos um caminho mais fácil a seguir, o medicamento cura o corpo, mas como fica a alma? O que fazer com marido (esposa) que nos maltrata, o filho que usa droga, o chefe que nos tiraniza, a falta de dinheiro? Pode uma alma doente manter um corpo são? Eu costumo dizer que o Pânico me deu outra vida para viver, como deu para outras pessoas, porque ele nos fez olhar nossa vida de frente e mudar. Acho que o remédio ajuda nosso corpo para que possamos trabalhar nossa alma: do interior para o exterior, em forma de paz e aceitação, às vezes, até aceitação do pânico.

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