Entrevista III
Dr. Manuel E. Tancer é professor de Psiquiatria e Behavioral Neurociencias na Wayne State University of Medicine, é diretor do Psychiatry Research Veterans Adminstration Medical Center, em Michigan, Estados Unidos. Ele tem participado e dirigido diversas pesquisas na área de pânico nos Estados Unidos e contribui com o jornal informativo sobre pânico publicado pela Anxiety Disorder Associtaion of America (ADAA), escrevendo artigos.
S - Eu tenho conversado com diversos especialistas e o que eles têm a dizer sobre o é pânico e suas causas é bastante confuso e controverso. O que você tem a dizer sobre estas discordâncias?
T. Estas são questões difíceis de serem respondidas. É mais fácil descrever os sintomas do que seja o Pânico. As pessoas que tem Ataques descrevem estes súbitos e totalmente inesperados sintomas de medo...sintomas físicos, como coração disparado, mãos trêmulas, respiração muito rápida, eles se sentem frios ou quentes, muito tontos ou confusos. Isso acontece repentinamente e pode durar de 5 a 10 minutos. Para a maioria das pessoas isso acaba em meia hora. São muito intensos, mas não duram muito tempo. Nós não sabemos o que causa, mas existem inúmeras teorias que têm sido apresentadas. Uma teoria é que uma parte do cérebro chamada LOCUS CERELEUS, que está envolvida com as atividades do sistema nervosos simpático, parece que para certas pessoas com Pânico, este Locus "dispara" muito rapidamente. Normalmente o locus é envolvido em atenção e estímulos. Por exemplo, se você escuta um barulho, ele faz com que se vire para ver o que está acontecendo. É algo que precisamos ter, mas para certas pessoas com Pânico o sistema adrenal é muito ativo, então pensa-se que envolve pânico. Outra teoria é a do sufocamento e respiração. Dizem que pessoas com pânico são mais sensitivas que outras para a sensação que não são capazes de conseguir ar suficiente. Esta é a chamada Teoria do sufocamento, e pode até ser verdade, mas muitas pessoas não têm sensação de estar sufocando como sintoma principal. A teoria, cognitiva/comportamental desenvolvida por David Clark, diz que o pânico não é um problema físico de maneira alguma. Diz que é puramente psicológico; que as pessoas interpretam errado as sensações normais do corpo (como coração batendo mais rápido). Elas ficam esperando algum desastre acontecer. Esta teoria acredita em que todos de vez em quando se sentem tontos, confusos, o coração "pula" uma batida, no entanto pessoas com pânico associam esses sentimentos com morte ou alguma coisa terrível que acontecerá, e isto é o porquê o pânico acontece. Para elas, se você mudar a maneira de pensar, vai se sentir melhor. Existem estudos muito convincentes provando isso.
S - O que você pensa, com sua experiência? É físico ou não?
T - Eu penso que é uma doença confusa e que existem diferentes coisas que a causam. As causas são diferentes para as diferentes pessoas. Não penso que é uma doença simples e que todo mundo deve ser tratado da mesma maneira. Algumas pessoas se dão muito bem com a terapia comportamental, alguns se dão bem com manual de auto-ajuda, alguns se dão bem com medicamentos. Eu penso que é uma combinação de vulnerabilidade biológica e que algum tipo de stress desencadeia o pânico. Não são todos que reagem ao stress tendo pânico, mas se você tiver a biologia que é anormal, essa biologia mais o stress podem ativar o pânico. A razão, pela qual eu penso isso é que a maioria das pessoas com pânico teve stress ou um grande acontecimento que precedeu o início das crises. Pode ser uma mudança, casamento, um filho, alguém que morreu. Havia muita coisa acontecendo e para algumas pessoas aquele stress causou o aparecimento do pânico. Mas você precisa ter também a biologia da síndrome, porque muitas pessoas compram casas, mudam, têm filhos e nunca têm ataques de pânico. Portanto eu penso que tem uma parte biológica, mas também uma parte ambiental, as duas coisas têm de existir juntas. O que não é claro é porque existe uma variação tão grande na severidade do pânico, porque alguns ficam presos em casa tendo suas vidas totalmente dominadas pelo pânico, enquanto outros, tendo sintomas menos severos, mantêm um ritmo normal de vida, não precisam de tratamento, não se torna um grande problema. Isto não é muito claro. E há ainda a segunda parte psicológica, que comanda como você reage à doença. Isto é claramente importante também para outras doenças. Algumas pessoas terão artrites e deixarão a artrite as vencer. Outros com a mesma quantidade de artrites vão em frente e agem como se nada estivesse errado. Aí que entra a parte psicológica de como lidamos com a doença, como nós lidamos com as coisas. Não penso que isto é biológico, penso que traz à superfície muitas outras coisas. Acho que como lidamos com a doença é assunto psicológico, ter a doença é um assunto biológico.
Outra coisa que é importante é que você tem de eliminar outras condições que podem causar pânico. Existem algumas medicações, um número de drogas e condições médicas que podem causar sintomas como Pânico. Tenha certeza de que nada disso está ocorrendo antes de ser diagnosticado com a Síndrome.
S - Você quer dizer que certas medicações podem provocar Ataques de Pânico?
T - Sim, podem. As que mais fazem isto são drogas como esteróides que são usadas para tratar asma, ou LUPUS tipos de síndrome. Drogas como LIDOCAINE, que são usadas nas unidades de terapia intensiva para manter pessoas vivas podem causar ataques de pânico. Drogas com THEOPHYLLINE, usadas para tratar asma. Cafeína, drogas como cocaína, maconha. Também, parar com determinados medicamentos pode causar pânico. Pessoas que vêm usando muito álcool, se deixam de beber subitamente podem ter ataques de ansiedade ou pânico. Pessoas que param de usar medicamentos para pressão sangüínea, como BETA BLOCKERS, podem ter o problema. Portanto existem muitas coisas que podem ser associadas à ansiedade. É importante você fazer um bom check up, antes de seu médico decidir que você está tendo Ataques de Pânico. Outra coisa, problemas com tireóide podem causar ataques de pânico.
S - Eu li que Pânico ataca muito mais mulheres do que homens, alguma razão conhecida para isso?
T- Nós não sabemos. Sabemos, através de estudos, que é duas vezes mais comum em mulher que em homem. Parte disso pode ser porque mulheres são mais suscetíveis para doenças psiquiátricas como depressão, que é muito mais comum entre elas, e nós não sabemos o porquê disso. Mas há um dado importante, é que mulheres são mais inclinadas a irem consultar psicólogos e psiquiatras que homens. Quando homem tem sintomas como de pânico eles geralmente vão para a Emergência, ou cardiologista, pensando que estão tendo um ataque do coração ou morrendo. Muitos homens nunca vão ver alguém que trabalha com saúde mental. Portanto, Pânico é mais comum em mulheres, mas mulheres buscam mais ajuda para problemas psicológicos que homens.
S- Você pensa que mulheres são mais susceptíveis a ataques de pânico porque elas podem depender de outras pessoas, marido, pais? Já o homem tem de pôr as coisas dentro de casa, por isso ele é obrigado a ir em frente e enfrentar, senão ele perde o orgulho, a família, tudo enfim?
Ficou curioso(a)..... no livro O Prisioneiro do Medo você terá o complemento de toda a entrevista. |