1 2 3
Artigos

TERCEIRA IDADE É A QUE MAIS CONTRAI O HIV

Jussara Câmara
Jornalista

O número de idosos contaminados com o vírus do HIV que passaram na enfermaria do Hospital Gaffrée e Guinle na Tijuca — referência nacional no atendimento da Aids - dobrou nestes dois anos. Os casos passaram de 52, em 2001, para 120 no ano passado. Estes números ilustram um panorama carioca, mas o governo federal reconhece que a situação é grave em todo o país. 

Estatísticas mostraram que enquanto o número de diagnósticos de pessoas infectadas pelo vírus ficou estável em várias faixas etárias, em mulheres e homens de mais de 60 anos esta incidência disparou. E sobre a mulher idosa houve um crescimento de 567% entre 1991 e 2001, contra 98% entre os homens. Enquanto isso, as campanhas de prevenção são protagonizadas por jovens.

O pior de tudo é ter que lidar com o preconceito. A sociedade considera que sexo é prerrogativa da juventude. E segundo alguns pacientes, mesmo os profissionais de saúde ficam surpresos e perguntam: 'Foi transfusão de sangue?'.

Estudo realizado pelo Ministério da Saúde, em janeiro, sobre o comportamento sexual dos brasileiros mostrou que 67% da população entre 50 e 59 anos se diz sexualmente ativa. No grupo acima de 60 anos, o índice também é expressivo: 39%. A média de relações na parcela acima de 50 anos é de 6,3 ao mês. 

A longevidade sexual da população está aumentando e a prevenção às Doenças Sexualmente Transmissíveis precisa ser intensificada. Num futuro próximo, pelo menos 10% das pessoas infectadas com o vírus da AIDS será igual ou superior a 60 anos. 

A explicação para o aumento destes casos se deve de ao fato de que as mulheres, por não correrem mais o risco de engravidar, abrem mão do uso da “camisinha”. Fazer sexo sem camisinha é particularmente arriscado depois da menopausa, quando as paredes vaginais se tornam mais finas e ressecadas, favorecendo o surgimento de ferimentos que abrem caminho para o HIV. Mas, grande parte “pega” de seu companheiro, que dá suas escapadas de vez em quando.

Para os homens idosos existe uma dificuldade de adaptação em relação ao uso dos preservativos. Eles se sentem constrangidos em adquiri-los e muitas vezes, não querem os utilizar com medo de estes prejudiquem a ereção. No entanto, para adquirir medicamentos que prolonguem seu desempenho sexual, eles não têm vergonha.

Para piorar ainda mais, os sintomas da doença podem levar até oito anos para aparecer nos idosos. Suas manifestações iniciais podem ser confundidas com condições próprias da velhice, como a falta de apetite, emagrecimento, perda da memória, dores osteoarticulares e cansaço, retardando o diagnóstico. Quando a AIDS é detectada, às vezes está em sua fase avançada e, desta forma, acaba reduzindo a sobrevida desses pacientes. 

A AIDS na terceira idade é bastante cruel, pela própria situação de ''envelhecimento com dependência'' que afeta os idosos. Na maioria das vezes, eles são abandonados, por seus próprios familiares, nos hospitais de emergência, sem previsão de retorno para os seus lares. 

É fundamental que se inicie campanhas urgentes, no que tange à prevenção da Aids nos idosos, verdadeiramente mais esclarecedoras. É preciso informar de que a maioria adquire o vírus depois dos 50 anos, em relações heterossexuais; que entre os idosos, portadores do vírus, há dois perfis clássicos: o do homem casado que se contamina com uma parceira mais jovem e o das viúvas que redescobrem o sexo. É preciso apenas alertar, sem constrangimento e preconceito.

Jussara Câmara é jornalista, editora da revista www.idademaior.com.br, dirigida à terceira idade, que é atualizada mensalmente e conta com assuntos de 9 áreas diferentes, escolhidas por esta faixa etária. Seu e-mail é [email protected]

voltar