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Editorial

Editorial Junho 2011


NÃO ME ALIMENTO BEM OU SOU VICIADO EM COMIDA?

Por: Silvana Prado

Esta semana vi um programa que me deixou no mínimo estarrecida. Um grande cozinheiro decidiu ir a uma escola pública na Inglaterra e mudar o cardápio das crianças. Foi à escola, apresentou o projeto, teve aprovada sua proposta e, entusiasmado, foi falar com os cozinheiros da escola.

Ninguém gosta de mudanças. E quando a mudança faz você trabalhar mais, pior ainda. Assim, em vez de coisas compradas prontas e depois apenas fritas para serem servidas, as cozinheiras tiveram de lavar legumes, temperar carne, cortar temperos, uma loucura. Dava para ver no especial a cara delas. A chefe da cozinha disse para o coitado do cozinheiro que naquele momento estava entre os seres mais odiados da Terra: – As crianças gostam das frituras, por que mudar? Argumentos à parte ele finalmente consegue servir o almoço, e é quando é surpreendido por crianças e jovens jogando a comida no lixo e preferindo não comer nada. Só de olhar eles diziam: – Não como isto, que nojo!

Estamos falando de salada, frango assado e vegetais cozidos, isto era o que causava nojo nas crianças (e, parecia, também nas cozinheiras). Bem, o cozinheiro não é homem de desistir e foi conversar com algumas crianças para ver o que sugeriam. Muita conversa depois, ficou sabendo que as crianças estavam comprando sanduíches para não terem de comer a comida saudável. Incansável, nosso herói cozinheiro assume o departamento de lanches e põe verduras nos lanches, a carne não é mais processada, é preparada no dia na escola.

Sem opção, alguns estudantes começaram a comer os sanduíches agora feitos na escola, e no desespero passaram a experimentar os alimentos oferecidos no refeitório, pois nosso cozinheiro já havia feito mudanças enormes no cardápio inicial para poder atrair as crianças e adolescentes.

Três meses depois era possível ver a diferença: apenas cinco alunos ainda se recusavam a comer o que estava sendo oferecido; o restante passou até a gostar dos alimentos preparados na escola, muitos começaram a consumir frutas, vegetais e legumes.

Com o sucesso outras escolas quiseram aderir ao programa e encaminharam mais de 20 cozinheiras para um campo de treinamento, veja bem, disponibilizado pelo exército. O fato de as crianças recusarem comida saudável até que não me surpreendeu. Fiquei, sim, surpresa com a atitude das cozinheiras, que, no primeiro dia, ou não comeram nada ou só pegavam uma coisa ou outra; por exemplo, só batatas cozidas ou só algumas folhas de legumes. O que se percebe é que as crianças estão sendo vítimas dessa nova educação alimentar em que comer o ruim e fácil de preparar é a meta principal. Saúde não tem mais lugar no nosso mundo moderno.

Na casa do cozinheiro podíamos ver a filhinha dele, pequenina, talvez 2 anos, comendo vegetais crus, com as mãozinhas.  As mães trabalham fora o dia todo, também só consomem junk food (alimentos lixo) e assim educam seus filhos. Vi em uma matéria sobre alimentos brancos que hoje as crianças gostam de comer estas coisas: arroz, queijo, requeijão, ovo frito de vez em quando, refrigerante todos os dias e uma quantia de doce absurda. Fica a pergunta: a longo prazo, o que será de nossas crianças? O que acontecerá com sua saúde?

Tivemos um caso no Apoiar; agora apareceram mais, de crianças que só tomam leite e têm ânsia de vômito se tentarem comer outras comidas. Alguns casos vêm desde que a criança nasceu: sofria de algum tipo de alergia e acabou com dieta muito restrita, mas na maioria dos casos, podemos apontar o problema como sendo dos pais. Se estivéssemos falando de pessoas carentes que trabalham o dia todo e chegam em casa exaustas, elas ainda teriam uma desculpa; mas e aquelas mães e pais que têm uma funcionária que cuida da casa e mesmo assim as crianças estão com alimentação tão ruim?

A realidade tem-nos mostrado que a obesidade está se tornando um problema seriíssimo entre jovens. Entre adultos já é uma epidemia em alguns países, no entanto, de acordo com alguns estudos, essas casas de lanches – os quais trazem em si mais de mil calorias e são feitos com óleo velho – estão cada vez mais sendo abertas perto de bairros onde a renda é baixa, pois como a comida é muito ruim pode ser vendida por um preço bem em conta. Então as pessoas com menor poder aquisitivo acabam viciadas em junk food devido ao preço e à facilidade: entrou, comprou, comeu.

Um artigo de David Kessler, antigo diretor do US Food and Drug Administration (FDA), alerta para o fato de que chips, cereais, comida pronta podem atingir áreas de prazer do cérebro da mesma maneira que o cigarro consegue fazer. E, pior, a pessoa continua com vontade de comer mais.

Ele diz ainda: é tempo de parar de culpar as pessoas por serem obesas; o problema real são essas comidas que fazem com que você queira comer mais e mais.

Alguns produtos citados são o ketchup Heinz e certos capuccinos.  Portanto, devemos pensar em mudar nossos hábitos alimentares, não só por causa do problema de obesidade, mas porque as pessoas estão tendo problemas sérios de saúde devido ao consumo de alimentos cheios de substâncias tóxicas e sem valor nutritivo. Devemos nos lembrar que o câncer e a doença de Alzheimer têm sido ligados à má alimentação.

Silvana Prado

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