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Editorial

Editorial Março 2015


Como nascem os Heróis



Por Silvana Prado



Uma noite destas ao chegar em vi a cenas mais horrível que já presenciei em minha vida: um homem caído no chão enquanto outros dois o espancavam de maneira violentíssima. Eu já vi cenas como aquela em filmes mas pensava: Nunca um ser humano teria coragem de fazer isto. Mas ali na minha frente estava a demonstração do mal que se pode fazer. Quando vi a cena a distância congelei. Não conseguia enxergar direito o que estava acontecendo, depois daquele momento que perdi a noção de tudo, fui pegar meu celular para ligar para polícia mas eu havia esquecido no Apoiar.



Dei marcha ré no carro e enquanto dirigia para a delegacia pensava: O que fez a pessoa que estava no chão para estar recebendo aquela surra e quem eram aqueles homens que, a céu aberto, espancavam de maneira tão violenta outro ser humano. Quem apanhava estava acertando contas mas os que praticavam aquela violência estava criando dentro de si uma energia de violência que voltará até eles, não tem como fugir das leis de causa e efeito: você joga na parece volta para você. E cada atitude que temos acaba voltando na nossa vida, seja boa seja ruim.



Sinto mais compaixão dos agressores do que do agredido.



A lembrança daquela cena horrível ficou comigo por alguns dias, eu fiz rodadas de EFT para buscar entender que mesmo os seres mais cruéis carregam dentro de si bondade.



No dia seguinte, fui convidada a conhecer o trabalho de uma pessoa em Franca que montou uma casa de apoio a pessoas com câncer.



Eu mesma após passar pela doença, pelo tratamento e sentir na pele o sofrimento, tentei montar um trabalho junto ao Hospital do Câncer mas não tive qualquer apoio. Montei um trabalho no Apoiar e ninguém do hospital nos encaminhava os pacientes para receberem os tratamentos que estávamos oferecendo: meditação, atendimento psicológico e ajuda em coisas materiais se fosse o caso.



Depois da decepção inicial vi que estava dando murro em ponta de faca e continuei minhas atividades, que vou dizer me deixam bem ocupada, e foi nesta época que conheci o EFT e minha vida seguiu em frente.



Quando fui convidada a conhecer o trabalho da Eliane Aparecida Bonini de Melo e seu marido Daniel de Melo fiquei surpresa com a coragem dela, e a história é totalmente contraria a que contei no início deste artigo: ela foi diagnosticada com câncer, e um dia enquanto dirigia perguntou a Deus o que Ele estava querendo mostrar a ela. E foi quando teve o insight de ajudar as pessoas que tinham menos recursos do que ela.



Pensou que o marido não iria apoia-la, mas quando contou a ele que queria montar esta casa de apoio ele perguntou: — Quando você quer começar? O que precisa?



E durante o tratamento ela montou a casa chamada IANSA. Com recursos próprios e ajuda de alguns amigos e familiares, na raça mesmo como dizem.



A casa montada veio uma grande decepção: não aparecia quase ninguém, a casa estava pronta para dar tanto amor e ninguém chegava nela. Mas ela não desistiu como eu fiz e foi procurar meios e pessoas que a ajudassem a vencer esta barreira, pois, muitas pessoas sabiam da casa de apoio e apesar de verem os doentes e seus familiares dentro do Hospital do Câncer precisando de ajuda, não encaminhavam para receberem o auxílio que tanto necessitavam.



Até que um dia, no meio das coincidências criadas por Deus, ela encontrou a pessoa certa que foi conhecer a casa e as coisas seguiram em frente, hoje eles têm tanta gente procurando que estão aumentando o espaço os recursos para poderem atender a todos.



Depois que conheci a Eliana e ela me contou a sua história, enquanto eu, novamente, dirigia para casa, tinha pensamentos totalmente diferentes daqueles que tive na noite que vi aquela agressão.



Com alegria percebi que pessoas podem em momentos de dificuldades se tornarem monstros ou anjos, você concorda?



E esta mulher decidiu que seu sofrimento seria transformado em luz, que sua dor não seria em vão e é assim que nascem os heróis: das maiores adversidades, eles, não se abatem... se elevam, como se a dificuldade desse a eles as asas que precisavam para voar.



Dois dias na semana, duas cenas totalmente diferentes, duas lembranças que estão entre o céu e o inferno.



Eu vejo muitas pessoas sofrendo vindo ao Apoiar, todos os dias escuto histórias tristes, no entanto, quantas pessoas estão tão fechadas em suas dores que só conseguem se sentirem vítimas e perdem a chance de aprenderem as lições tão valiosas que nos trazem as doenças.



Outras resolvem que o momento não é de reclamar mas de mudar de aprender, de fazer faxina na casa mental e passar a vida a limpo. Nada de reclamar, jogar o lixo para fora abrindo espaço para coisas novas e boas. Esta decisão é nossa e, se quisermos ser heróis o convite este ai, a hora é esta, o momento é perfeito.



Há algum tempo tive uns problemas sérios no Apoiar, pessoas que deveriam estar lá para ajudar, depois de algum tempo se acomodam e passam a pensar somente em tirar vantagens e escrevi o seguinte: “Às vezes Deus se confunde e me veste de herói, eu não me sinto preparada, a fantasia às vezes é grande demais, às vezes é pequena demais, eu me atrapalho, pois, não entendo direito o que Ele quer que eu faça, então Deus ‘cai na real’ e me tira a fantasia. Penso que, Deus, fica sem opções porque eu realmente não encaixo no papel de herói, fico furiosa, fico cansada, fico frustrada, Parece que não existe um senso de solidariedade e, — compaixão, é para poucos, mesmo sendo tantos os que necessitam dela...”



Sim as vezes a fantasia de heróis fica grande, as vezes apertada, você se sente fora do papel, mas que papel melhor podemos assumir em nossas vidas do que este de ser alguém que, perante as dificuldades continua seguindo em frente e encontrando maneiras de ajudar.



Quando os seus momentos de heróis se tornarem difíceis use a fantasia assim mesmo, dá uma remendada nos rasgos, faça os ajustes necessários, depois de algum tempo como toda roupa de super heróis ela magicamente se encaixa a você de novo e você volta a sentir que é invencível, que é amado e que não gostaria de trocar de lugar com ninguém no mundo porque sua vida já é perfeita exatamente como ela é agora.



Se quiser conhecer o trabalho da Eliana procure no Facebook Casa de Apoio IANSA, pessoas com câncer está vivendo momentos muito difíceis mas você pode ajudar a diminuir este sofrimento.



Muita paz



Silvana Prado

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