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Editorial

Editorial Janeiro 2015


Como uma mulher mudou o significado do Natal

EDITORIAL: SILVANA PRADO

A o longo dos anos certas histórias se tornam partes de nossas vidas, e através da escrita conseguimos dividir com as pessoas momentos tão lindos e que nos servem como exemplos de vida. Vou contar uma destas histórias para que ela te inspire no decorrer de 2015.

Fizemos o que eu chamo de Natal de Amor do Apoiar na cidade de Jeriquara. Visitei todas as famílias, fizemos uma seleção e foram escolhidas 15 famílias que receberiam uma boa cesta básica, presentes para as crianças, adolescentes, para as mães e os pais que aparecessem, receberam também um saco do chocolate e um frango (você pode ver as fotos no Facebook meu ou no do Apoiar). Na última hora apareceram mais cinco, eu não conseguia eliminar nenhuma devido à situação financeira delas e me lembrei do livro a Escolha de Sofia, desculpe estou divagando demais. Resolvi fazer o Natal na última hora, porque eu estava pensando que viajaria para fazer um curso, que acabou não dando certo, depois estava planejando uma pequena cirurgia, que também não deu certo. Enfim pensei: “Está em cima da hora, mas vou fazer este Natal”, e em 15 dias montei com a ajuda dos meus amigos esta pequena celebração.

Mandei mensagens para 15 amigos pedindo as cestas e alguns brinquedos, eram 49 presentes e eu queria comprar alguns para dar minha contribuição. Quase todos responderam na hora: “Pode contar comigo”. Alguns me deram duas cestas ao invés de uma, uma das amigas me deu cinco, que gratidão a minha com tanta generosidade. Assim, três dias antes a Lilian, que trabalha com a equipe do Apoiar, minha prima Célia e eu estávamos comprando presentes, embalando e fazendo cartões de Natal. Pensei que não íamos dar conta, pois quando fui ver o preço de bonecas e bolas e outros brinquedos, quase caí das pernas. Enfim na última hora minha amiga Marinha falou que tinha um lugar em Franca que vendia por atacado e eu fui descrente para o lugar, mas, ao chegar lá, fiquei muito feliz, encontrei quase todos os presentes num lugar só.

Felizes da vida fomos para “Jeryland”, e às 10 horas em ponto começamos a distribuição. Os adultos ficaram felizes e as crianças surpresas com os presentes, pois não eram de R$ 1,00. As mães ficaram admiradas, pois tinham também duas lembrancinhas para elas: uma carteira e um creme para o corpo.

O amigo José Roberto virou nosso Papai Noel e, emocionado, recebia e abraçava todas as crianças, mas teve esta família que foi tão especial para todos nós.

Entregamos os presentes para as crianças, e a mãe estava tão feliz de ver seus filhos receberem os brinquedos e ver o tamanho da cesta de Natal, e ainda tinha frango e chocolates... E foi quando demos para ela a carteira e o creme. E ela falou: “Nunca tive um Natal assim na minha vida, na verdade nunca recebi um presente de Natal, esta é a primeira vez”.

Foi um choque para todos nós, que ficamos calados cheios de surpresa e encantamento com a atitude dela. Nosso Papai Noel ficou com os olhos cheios de lágrimas e quase começou a chorar. Todos sentimos aquele toque mágico do momento no nosso coração. Aquela senhora tão simples estava nos dando o maior presente que poderíamos receber, uma alegria indescritível de poder estar oferecendo a ela este presente que era de alguma forma insignificante para nós, mas ao mesmo tempo, um dos momentos mais lindos de sua vida.

Mas não terminou aí a alegria que nos deu, os filhos dela foram as crianças mais educadas e gratas que apareceram. A menininha agarrou no pescoço do Papai Noel e não queria largar... quando ela viu a boneca não conseguia parar de rir e mostrar para a mãe o presente. A mesma coisa que o menino e a filha adolescente. Mas ainda não terminou, ao receberem todos os presentes, a senhora pediu para nós: “Posso pôr todos os presentes na frente do Papai Noel para tirar uma foto e eu poder lembrar deste momento?”

Colocamos tudo na frente do Papai Noel e nos juntamos para que ela pudesse ter a lembrança daquele momento com todos nós.

Na saída ela veio me abraçar e acabei tirando uma foto com ela, que parecia uma criança frágil buscando o aconchego da mãe.

E a gente pensa: quanto você pagaria por um momento como este? Quanto vale a alegria que esta mulher nos deu com sua gratidão? Não tem preço, não tem dinheiro que compre algo tão simples que aconteceu de maneira tão natural e se tornou tão precioso para todos nós.

Passei a ter uma certa resistência ao negócio que virou o Natal. Final de ano virou símbolo de estresse, gastação de dinheiro, comer e beber em excesso. Quase ninguém se lembra quem está sendo homenageado. E quando vejo pessoas presenteando outras que não precisam de nada, gastando uma fortuna para agradar a alguém de uma maneira sem sentido, pois o outro olha o presente e às vezes nem gosta, penso no quanto poderia ser feito se dividíssemos estes presentes com quem realmente precisa, com quem realmente daria valor.

Mas esta senhora me mostrou que o Natal pode ser algo extremamente espiritual, não pelo valor do presente, mas pelo gesto, pela atenção, pelo carinho.

E assim eu começo meu ano com a lembrança sem preço daquele momento, que nunca mais esquecerei e que nunca mais será repetido, pois é extraordinário demais e se torna uma obra de arte para minha mente tão cheia de pedras preciosas, como escrevi em um editorial chamado As pedras preciosas da minha mente, que você pode ler no nosso site (www.apoiar.org.br).

E você, quais lembranças são pedras preciosas ou obras de arte em sua mente que você nunca mais esquecerá? O que teve de valioso em sua vida que te tornou uma pessoa mais feliz, mais espiritual, mais humana?

O ano de 2015 está chegando, cheio de incertezas, mas no fundo do coração de quem vive momentos como estes existe muita esperança de que pequenas coisas podem mudar o mundo, fazer a diferença e tornar o nosso ano mais cheio de vida e amor por nós, pelo próximo e pela natureza.

Você pode fazer a diferença, mude para melhor e seja mais feliz em 2015.

Muita paz.

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