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Editorial

Editorial Agosto 2014


As pedras preciosas da minha mente

EDITORIAL: SILVANA PRADO



Olho-me no espelho e acho que a imagem que vejo não é a minha, não sou eu. Não é possível, sinto-me tão jovem, mas meu rosto me mostra que muitos anos se passaram desde meu nascimento.


De alguma forma isto é bom, é a única maneira de nos desligarmos das coisas materiais e prestarmos mais atenção às coisas do espírito.


Lembro-me de alguns eventos importantes destes últimos anos. Um em especial me vem à mente, até já contei no Mente Livre, mas faz tantos anos... vou contar novamente.


Deixaram duas corujinhas no quintal da casinha que minha mãe tem em Jeriquara (SP). Cheguei lá no final de semanas e as encontrei, quase sem penas, jogadas numa caixa de papelão. Elas iam morrer com certeza. Chamei um primo meu e ele, com luvas, porque elas têm um bico para arrancar pedaços, as colocou numa caixa de madeira e cobrimos com uma lona na frente de forma que elas pudessem sair à noite.


Eu realmente não pensei que daria certo, mas deu. Comecei a ir para Jeriquara (SP), na quinta à noite para cuidar delas e voltava na segunda de manhãzinha. Elas cresceram e ficaram lindas, eram daquelas corujas brancas, grandes, quando abrem as asas parecem imensamente poderosas. Um dia, ao chegar a casa fui correndo vê-las como sempre fazia, mas tinham voado. Fiquei triste, mas alegre também, afinal, elas tinham vencido uma grande batalha.


Naquela noite, como fazia calor, eu estava dormindo com a janela aberta, e ao lado da janela tem um lindo coqueiro, alto e imponente. Lá pelas 21 horas começo a escutar o som de uma coruja piando; cheguei à janela, uma das corujas estava no topo do coqueiro. Fiquei profundamente emocionada e por horas eu olhava pela janela e lá estava ela. Adormeci finalmente, e pensei que nunca mais a veria. Para minha surpresa na outra noite ela voltou, e na noite seguinte e assim foi por meses. Mesmo eu não estando na casa alguns dias, ela continuou fiel e voltando.


Até que por uma série de problemas não pude ir mais a Jeriquara e ela sumiu.


Neste mês, que é de meu aniversário, penso que nada pode se comparar a um presente como este. Realmente não tem preço. A gente não compra o amor, seja de uma coruja ou de um cão, ou um gato, muito menos de um ser humano. É realmente inexplicável como uma coruja pôde ter uma ligação como está comigo, e foi só uma, a outra sumiu.


Eventos assim nos marcam e transformam, mas tudo começou no doar, no decidir dar atenção a elas, a me importar se elas viveriam ou não, sem querer nada em troca porque eu sabia que voariam. O milagre da retribuição que uma delas me deu, ninguém pode explicar, mas assim mesmo é uma das lembranças mais importantes de minha vida.


E assim, conforme os anos vão passando, podemos contar os milagres que aconteceram em nossas vidas e vemos a imensidão dos acontecimentos. Às vezes, coisas pequenas, que parecem insignificantes, ficam guardadas em nossa memória como tesouros incrustados nas paredes de nossa mente.


Se eu andar pelas profundezas de minha mente, verei pedras preciosas que representam os muitos momentos felizes que eu pude criar, e acho que aprendi a não perder a chance. A vida é tão frágil, eu sei.


Hoje pela manhã joguei comida para os passarinhos e centenas deles vieram se alimentar, pulando, brincando, brigando por um farelo. Peguei a câmera e, por alguns minutos, filmei aquele espetáculo. Tudo estava silencioso e eu pensei: isto é uma meditação, olhar os pássaros brincando no silêncio sem pensar nada. Outra joia para as paredes da minha mente.


Outra mudança que percebi em mim foi o conceito que tenho de quem sou. Ao ser entrevistada em um programa de TV, quando me pediram para completar a frase: “Eu sou...” eu disse: infinita! O apresentador achou estranho! Nossa, infinita! Sim, infinita, porque eu sou a imagem de Deus, sou infinita. Com todas as minhas falhas e pobrezas espirituais, sou infinita, porque Ele vive em mim, e quando às vezes em minhas meditações consigo me desligar de todos os meus erros e cobranças e culpas, o que vejo é um ser de luz infinita, perfeito, só esperando para ser liberado.


Eu sou infinita, tu és infinito, ele é infinito, nós somos infinitos, eles são infinitos. Não existe dúvida sobre isto, por mais que nos sintamos longe de Deus ou fora de Suas bênçãos, somos todos já perfeitos.


Faz seis anos que renasci vencendo o câncer, estágio IV! Tive duas chances na vida, a poucas pessoas são oferecidas tais chances, recomeçar!


Mas, na verdade, cada dia é um recomeço, cada vez que acordamos estamos renascendo!


Não sei ao certo quantos anos ainda, em agosto olharei no espelho e sentirei que meu rosto não combina com meu corpo, até que realmente chegue o tempo de deixar este traje velho, mas tão abençoado, que é o meu templo sagrado, e voltar a usar meu traje divino.


Enquanto isto, celebro a vida e a oportunidade de acordar e abençoar mais um dia.


Termino com um pensamento meu: Porque a única coisa que vou levar deste mundo é o amor que dei, procuro viver a cada dia construindo a fortuna que me acompanhará até o final dos tempos.

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