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Editorial

Editorial Setembro 2013


Este mês de agosto fiz licor de jabuticaba em casa, o trabalho é artesanal, e requer paciência e capricho. Primeiro a colheita tomando cuidado para que as jabuticabas não estraguem ao serem arrancadas do pé. Em seguida as frutas são separadas, lavadas e depois devem ser secadas cuidadosamente, para que não fique nenhuma água, uma vez que ficando molhadas, a umidade poderá facilitar o aparecimento de fungos que criam bolor.

Penso que fazer algo assim, misturando a parte arte de cozinhar com muito amor e paciência é um dos caminhos de nossa iluminação. Parece pouco, parece pequeno, queremos fazer grandes coisas, mas uma prática como esta: passar horas fazendo um licor, tornando tarefas entediantes e longas, em momentos de alegria é quando treinamos nossa paciência. Aprendemos a colocar amor nas pequenas tarefas e tenho certeza, cada pessoa que tomar este licor que fiz sentira não só o sabor maravilhoso da jabuticaba, mas também toda a energia colocada na arte de fazer licor.

Aprendi tarefas como está com minha mãe e penso que esta é uma maneira de preservar a história dela, aprendi também a fazer bolachinhas caseiras, pão, mas ela nunca teve paciência de me ensinar a fazer doces caseiros como de pêssego, figos, laranja, que ela fazia divinamente bem, mas decidi que quero aprender e assim que a época dos pêssegos, figos e laranjas pequeninas chegar, vou aprender. Os Budistas dizem a seguinte frase – antes da iluminação tirar água do poço e cortar lenha, depois da iluminação tirar água do poço e cortar lenha. Nada muda nas nossas tarefas diárias porque só recebemos a iluminação, o que muda é a maneira que fazemos cada atividade.

Este mês tive muitas pessoas tanto nas reuniões como nos atendimentos particulares que faço, queixando-se justamente destas pequenas tarefas. Cozinhar virou a exceção na vida das pessoas, melhor comer fora, muitas vezes, alimentos que são altamente industrializados ou congelados, onde o cozinheiro não tem tempo nem de pensar em colocar amor no que faz, devido a correria. Junte-se isto nossa pressa em comer, temos de chegar ao restaurante ou lanchonete e comer rápido, sair com a comida não mão se possível. Comer virou algo automático e sem sentido, não impressiona que os Estados Unidos esteja com 60% da população muito obesa e o Brasil seguindo o mesmo caminho.

No entanto, comer e cozinhar por anos foram momentos sagrados onde a família se reunia ao redor da mesa e uns ouviam os outros, escutavam as histórias diárias dos filhos, eram o momento onde víamos se eles estavam bem. Hoje, tem gente suicidando sem a família saber direito porquê.

Por outro lado a ciência, através de suas descobertas sobre a plasticidade do cérebro, demonstram que podemos mudar nosso cérebro em segundo, mas aprendemos algo novo quando fazemos a atividade com atenção e vagarosamente. Ou seja, você só consegue fazer rapidamente tarefas que já aprendeu, se quiser criar algo novo terá de ser lentamente, concentrado, acessando áreas criativas do seu cérebro. E quando mais difícil for a tarefa que decidir aprender mais seu cérebro criara novas conexões e mais capacitação é originada.

Mas o aprendizado acontece também quando fazemos algo que já sabemos, mas, ao realizarmos a tarefa de maneira calma, lenta, prestando atenção a cada movimento, cada gesto, estando totalmente presente no momento, o cérebro a mente, saem do automático (onde tudo é feito rápida e automaticamente) e neste caso, novas conexões são também criadas no cérebro.

Você deve estar se perguntando: como a Silvana começa um artigo falando de licor de jabuticaba e acaba falando de neuroplasticidade?

Tem tudo a ver com o meu licor, o tempo que gastei fazendo cada tarefa com cuidado, atenção e amor. Meu cérebro, corpo, mente e espíritos estavam engajados nas atividades criando uma sensação enorme de prazer e realização, mas também muita paz.

Na correria do dia a dia, esquecemos que cada tarefa é uma benção que refletira nossa vida, e que os pequenos atos de amor serão nossa herança espiritual, pois, a maioria de nós nunca fará grandes descobertas, mas como disse Madre Teresa: Podemos realizar pequenas coisas com muito amor.

Percebemos que estas lições de grandes Mestres não só ajudam as pessoas, nosso planeta, mas, antes de tudo nos ajuda a ter uma mente mais saudável e uma mente saudável nos trará mais felicidade.

Então, fica meu convite, pense em uma tarefa que você pode começar a fazer vagarosamente, com amor, colocando em cada gesto atenção e respeito, mesmo que seja uma pequena tarefa, ela te tornara uma pessoa de grandeza moral e espiritual.

O milagre de nossa iluminação espiritual é feita por pequenos e amorosos passos, a cada momento, a cada respiração.

Muita paz

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