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Editorial

Editorial Janeiro 2012


Viver através dos sonhos e das palavras...

No filme África, tem um personagem que tem o dom de criar uma história com qualquer frase que falem para ele. Podemos chamar isto de um dom, mas tem muito a ver também com pratica, quanto mais você conta histórias melhor mais aperfeiçoa o dom. Então como dizem para ser bom em alguma coisa, 20% é dom o restante é trabalho mesmo.
Escrever é uma coisa fascinante, o escritor pode levar a pessoa onde ele quiser, pode criar personagens do jeito que desejar, basta lembrarmos filmes que fizeram grande sucesso como O Senhor dos Anéis (na lista de meus livros e filmes favoritos), ou Harry Potter (que não esta na lista de meus favoritos mas conseguiu o milagre de fazer gente jovem ler).
Não sei se para todo mundo é assim, mas eu me desligo de tudo quando leio, passo a viajar com os personagens como se estivesse com eles. Um livro pode tocar de tal forma a vida de uma pessoa que muda seu.
No final da leitura de qualquer texto, estamos com algo agregado a nós, se é um livro bom uma parte nossa melhorou se é um livro ruim acumulou-se em nossa memória, em nossa alma, em nossos sentidos, algo negativo.
Não são só as letras no papel, é a energia do autor se manifestando em cada palavra. Um dia um senhor me escreveu que estava muito doente e enquanto esperava no ponto do ônibus viu um jornal velho no banco onde estava sentado e começou a ler, tinha um artigo meu falando sobre doenças, energias e sua relação com a cura. Ele me escreveu contando  que o artigo mudou a  vida dele, pois passou a ver a doença não só como algo somente físico, mas como um complexo de coisas acontecendo que envolviam também o estado depressivo que ele se encontrava, sua alimentação, sua inatividade. Então um pedaço de papel velho num banco de espera mudou a vida de alguém.  
Eu vejo muita gente doente toda semana no Apoiar e no meu trabalho como advogada,  pessoas com problemas e conflitos sérios e quando as escuto sempre penso: a história desta pessoa daria um livro, pois a nossa vida é cheia de heroísmos. Tem a história do empresário que viu o pai perder todos os bens quando tinha 42 anos, e hoje - com 41 anos-  esta no caminho de fazer a mesma coisa. Ou a senhora que com oito anos teve de vir para Franca trabalhar como empregada domestica e a tarde tinha medo de voltar para casa da tia sozinha, pois o dia ia escurecendo e até hoje ela sente medo no final da tarde. Ou do morador de rua que para se defender teve de matar alguém, mas quem acreditaria na história de um morador de rua?Estas pessoas se vêem frente a dificuldades enormes e apesar de tudo acabam se tornando pessoas melhores.
Saindo do City Posto dia destes, vi as manchetes de dois jornais de Franca e comentei com o moço do caixa: Mas que coisa triste que estas manchetes estejam assim na primeira pagina (duas matérias sobre mortes brutais) como se a tragédia fosse noticia a ser divulgada, a desgraça dos outros alardeada. Para minha surpresa ele me respondeu: - É, mas é isto que vende jornal, se a manchete fosse Bombeiro Salva Vida de Menina Durante Incêndio, ninguém compra o jornal fica tudo ai na prateleira...
Realmente o que vende são os jornais cheios de histórias sangrentas, as revistas onde os escândalos -  quanto mais degradantes - mais chamam a atenção.
Enquanto existe tanta coisa linda para ser lida, qual seria a atração das pessoas por coisas ruins? Porque a morte sangrenta de alguém é tão interessante? Porque saber que um famoso foi preso por uso de droga vende tanta revista? Ou que a modelo tal esta grávida não sei quem? Como este tipo de informação muda nossa vida? O que nos trás de positivo, o que acrescenta a nossa alma, ao nosso cérebro?
Quantos de nós ainda le um livro de estórinha para o filho na hora de dormir, um momento que sempre foi mágico, não só pela estória mas também pela possibilidade de estarmos perto da criança e fazê-la sentir segura e amada, vista?
Enquanto isto a depressão e a ansiedade fazem acampamento na nossa cabeça... o copo está cheio não existe espaço para nada, o negativo preencheu todos os cantos da nossa mente.  
No meio de tudo isto, vejo com surpresa a cada mês a edição do jornal Mente Livre esgotar, gente procurando o jornal em dois ou três patrocinadores que recebem o jornalzinho para distribuição. Um jornal que trás matérias sérias como as nossas é lido e buscado com assiduidade, me traz esperanças que estas pessoas que lêem algo sério e educativo possam inspirar outras a fazerem o mesmo, pois um povo sem cultura é um povo perdido, que pode ser manipulado com facilidade.
Enquanto vou terminando este artigo me lembro de um livro que me impressionou apesar de ter lido há muito tempo atrás : Nunca Lhe Prometi Um Jardim de Rosas  que tem uma passagem que me marcou, talvez esta seja uma das razões que eu, após me curar do transtorno do pânico, continuei a estudar e trabalho com saúde mental. A personagem principal, uma menina, ia ser internada devido a um transtorno psiquiátrico. A mãe então entra para falar com a psiquiatra e narra a história da filha, ao finalizar a médica diz que precisava falar com a menina ao que a mãe retruca:-  Mas eu já contei tudo o que aconteceu, tudo o que fiz...  sabiamente a psiquiatra responde: - Você me contou o que você deu, agora ela vai me contar o que recebeu...
Grande lição não é mesmo? Então... me faça um favor: este mês  leia um livro que acrescentará algo a sua alma e convide um amigo (a) a fazer o mesmo.
Muita paz

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