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Editorial

Editorial Outubro 2011


Enquanto a sabedoria não vem...

Além do livro que comentei no início do Mente Livre, estou lendo Autobiografia De Um Iogue, de Yogananda. Este livro está entre as 100 obras que mais inspiraram espiritualidade no século XX.

Fico pensando que as pessoas realmente não têm tempo nem interesse em ler um livro destes ou quem lê acha lindo e depois o leva para a estante junto com outras pérolas de literatura, onde ficarão guardadas até sabe-se lá quando.

Yogananda (1893 – 1952) foi considerado um dos líderes espirituais de sua época. Teve a oportunidade de estudar com grandes mestres, e as histórias narradas são tão lindas quanto impressionantes. Num tempo em que milagres realizados por mestres não eram incomuns, podemos ainda perceber que mesmo ele, Yogananda, se surpreendia com as realizações de seu mestre e tutor espiritual.

A sabedoria do mestre de Yogananda,  Swami Yukteswar, mesmo naquela época,  vai desde física quântica a comentários lindíssimos sobre a Bíblia. Vejam vocês, as almas iluminadas não acham que são donas da salvação ou não nós ameaçam dizendo que se você não fizer parte desta ou daquela religião, ou seguir tal ritual, não será salvo.

Um dos comentários mais lindos do livro é uma interpretação que Swami Yukteswar faz para Yogananda. Ele comenta que quando Jesus disse: – Ninguém vai ao Pai senão por mim!, isso não quer dizer que seria por esta ou aquela religião, mas que Jesus estava em tal proximidade de Deus, que nele não havia a personalidade; o eu, o indivíduo não existiam; ele, Jesus, era uno com Deus, então o que tentou nos dizer é que somente pela prática do amor que ele ensinava seria possível chegar ao Pai.

Impressionante o tempo que as pessoas na Índia, até nos dias de hoje, dedicam às práticas espirituais. Muitas pessoas, quando se aposentam, se afastam da vida mundana, buscam um mestre que as ajude a conhecer os desígnios divinos através da meditação, prática da ioga, canto de mantras, orações e rituais de adoração a Deus. Práticas esquecidas por pessoas do Ocidente que, depois da correria do dia todo, ao chegarem em casa caem como mortas-vivas em frente à televisão e mais ou menos por quatro horas todas as noites se entregam às ilusões trazidas pela telinha, fazendo-as se esquecer de que nosso primeiro compromisso deveria ser a nossa elevação espiritual.

Faça as contas: multiplique quatro horas por dia por sete dias por semana e teremos 28 horas semanais (este é o tempo mínimo que as pessoas no geral passam na frente da televisão ou computador). Se multiplicarmos por quatro (semanas), teremos 112 horas mensais que perderam inconscientes – como um bêbado, que não tem noção do que acontece a sua volta tão intoxicado está pela bebida! Vamos seguir em frente e multiplicar estas 112 horas por 12 e terão passado em um ano 1.344 horas na frente da televisão. Se jogarmos os últimos dez anos veremos que se somam 13 mil horas. O que ganharam ou aprenderam nestas 13 mil horas? E se estas 13 mil horas tivessem sido aplicadas em alguma atividade espiritual, será que haveria alguma diferença na vida destas pessoas? Muitas em grande sofrimento, em grandes conflitos.

Minha televisão está sem pegar nada desde dezembro, mas mesmo antes disto eu dedicava tempo a meditação, ioga, exercícios, leituras. As pessoas me olham como se eu fosse um ser extraterrestre: – Sem televisão? Tudo –  menos me deixar sem televisão, dizem. Mas eu sinto a mesma coisa: – Como você pode perder tanto tempo na frente da televisão vendo coisas irreais? Como aceita perder tanto tempo que poderia ser dedicado a sua espiritualidade? A sua família? A sua saúde?

Na luta colossal que travo com as imperfeições de minha alma, com tudo o que faço, e oro, e me vigio, quanto me ajudam os momentos de meditação, yoga, leitura. As pessoas vivem hipnotizadas, passam uma novela a outra, o tempo não existe para mais nada, as escolhas não são mais feitas de maneira consciente, o domínio da ilusão é completo, a mente cada vez mais preguiçosa não consegue se fixar por meia hora numa leitura edificante. A ida a um local onde se cultiva a espiritualidade, como um templo, uma igreja, é feita rapidamente, para não perder o capítulo da novela ou do jornal ou do filme. E há aqueles que tão prisioneiros estão dessas atividades que gravam os capítulos, não podem perder nada.

Então eu lhe faço as seguintes perguntas: – Quanto do seu tempo está sendo investido na sua espiritualidade?  – Você teria coragem de todos os dias tirar meia hora para meditar? – Você teria coragem de fazer o que pela sua espiritualidade: parar de comer carne, parar de consumir em excesso, parar de criar tanto lixo no planeta? – Hoje em dia, quanto tempo cada dia dedica a Deus?

Não posso deixar de me lembrar de uma pergunta que fizeram a Chico Xavier, muitos anos atrás, por que ele continuava a escrever sobre as mesmas coisas, de novo e de novo e de novo. Ao que ele respondeu: – Porque vocês não aprendem e não praticam, então temos de ficar repetindo.

Assim, lendo um livro como Autobiografia de um iogue, sinto-me pequena e insignificante perante a grandeza da alma de Yogananda, que desde jovem renunciou a tudo na sua busca por Deus e quando finalmente o encontrou, saiu a pregar em Seu nome.

Em face das minhas imperfeições e dificuldades, só posso pedir a Deus e a seus mensageiros que tenham compaixão de mim e de todos os que, esquecidos deles e iludidos, vão continuar presos à Roda da Vida, à Roda do Sofrimento, com as correntes pesadas das ilusões nos impedindo de caminhar rumo à paz e harmonia que é nossa herança divina. Ainda bem que Deus não cansa de nos esperar...

Paz.

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