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Editorial

Editorial Julho 2011


SE VOCE TIVESSE OUVIDO A MINHA BRINCADEIRA DE DIZER VERDADES...

..., teria ouvido as verdades que insisti em dizer sorrindo, pois se alguma vez vesti a fantasia de palhaço, foi porque jamais duvidei da plateia que sorria. [Chapplin].

Este é um daqueles meses em que tenho tanto assunto, que fico indecisa sobre o que falar, mas acabo de ler a matéria do Paulo, psicólogo voluntário no Apoiar, sobre o sucesso de suas aulas de teatro, e ele citou uma frase de Einstein, que era realmente um iluminado, não só pela teoria da relatividade, mas por tantas manifestações sublimes que deixou para todos nós. Sempre tenho comigo em um dos livros que estou lendo um marcador com a seguinte frase de Einstein: Eu quero entender os pensamentos de Deus, o resto são detalhes.

Einstein era um gênio, quem pode negar? Ao mesmo tempo era esquisito. Hoje se fala que era portador de doença mental. Em uma de suas biografias, diz-se que ele era considerado um pouco "retardado" por seus professores. Hoje imagina quem era o retardado? Mas com certeza a genialidade, a arte e a loucura andam de mãos dadas. Neste mês também temos um artigo interessantíssimo sobre o assunto.

Um dos maiores gênios da nossa história, Leonardo da Vinci, era disléxico, escrevia de trás para frente, seus escritos quando encontrados não tinham ordem nenhuma, no entanto, é considerado um dos seres que mais usou o cérebro – ele estudou matemática, física, astronomia, paleontologia; era pintor, escritor e outras coisinhas mais. Mas era desorganizado. Fica a esperança de que aquele adolescente com um quarto que parece ter sido visitado por um furacão, seja um gênio.

Isto me levou a me lembrar de duas obras cinematográficas que nos inspiram a sermos pessoas melhores, a buscar objetivos além dos limites que nos foram impostos. O primeiro é Um Sonho Possível (The Blind Side). O fato interessante no filme, que é uma história verdadeira, não é que a heroína resolveu acolher e cuidar de um adolescente negligenciado, que era negro, gordo e praticamente analfabeto. O principal da história é o que  aquele menino que tinha tudo para dar errado, resolveu fazer com a ajuda oferecida. Ele poderia na primeira noite ter furtado diversos objetos caros na casa das pessoas que o acolheram, mas optou por colher os benefícios em longo prazo. Com a ajuda da família ele refaz sua vida e se torna jogador de futebol americano premiado e amado. Não foi fácil, ele mal sabia escrever, mas enfrentou os desafios, as lutas, os desgastes, buscando alcançar uma vida melhor, do que ser o filho de uma viciada em cocaína.

Outro filme que fala também em vencer limites é O Discurso do Rei, outra história verdadeira, sobre o pai da rainha Elizabeth da Inglaterra. Para grande consternação da família real ele era gago. Isso poderia afetar pouco sua vida de rico monarca, mas ele tinha uma função a exercer: falar ao rádio, pois este era um papel importante para a família imperial,  pois se comunicavam com seus súditos usando a rádio do império. Hitler já havia atacado diversos países, e quando a guerra chegou à Inglaterra, era o rei que deveria passar sua mensagem aos súditos, convidando-os a se juntarem na luta contra o ditador. O rei então encontra um professor que vai ajudá-lo a vencer a gagueira e as dificuldades dela decorrentes. O esforço dele é realmente enorme. Lições diárias por meses para prepará-lo para ser coroado e ser capaz de passar as mensagens, através do rádio, para dar coragem e manter unido o povo inglês.

Em dias em que a palavra sacrifício é evitada a todo custo e se tornou sinônimo de punição divina, ver pessoas desafiando o que parece impossível de ser conquistado virou uma raridade.

No entanto, se falarmos em grandes Mestres, todos carregaram sua cota de sacrifício. Estamos vivendo dias difíceis, em que o câncer e outras doenças vêm ceifando vidas sem dó nem piedade. E nos perguntamos: – De onde tirar forças para enfrentar a dor quando ela vier? Você sabe?
O que faz pessoas se tornarem heróis? O que nos eleva acima da mesmice que nos envolve no dia a dia e nos torna seres de luz?
Apesar de tanta dor e sofrimento vemos pessoas procurando levar alívio e consolo, dar condições a quem sofre de enfrentar o desafio de cabeça erguida, sem desfalecer, sem reclamar. Portanto, como dizem: ainda resta uma esperança.

É o que podemos fazer. Uma das maneiras que vejo que ajuda as pessoas a enfrentarem suas dificuldades é a arte. Como esquecer o menino que, contra todas as expectativas, escolheu vencer? Ou o rei que poderia ter posto outra pessoa para fazer seus discursos, mas resolveu se impor um regime escravo para vencer sua gagueira? A arte nos inspira e nos leva a acreditar que, apesar de tudo, podemos vencer!

Verdades chegam até nós em forma de histórias, de filmes, às vezes através do humor, quem não se lembra do filme maravilhoso de Chaplin O Grande Ditador? Mas a mensagem constante é que nos enchamos de coragem, que busquemos vencer os hábitos derrotistas que cultivamos; que procuremos vencer a preguiça, saiamos do comodismo e tenhamos objetivos mais nobres; que possamos dedicar mais tempo cultivando nossa espiritualidade do que vendo televisão; que dediquemos mais tempo para nossas orações e menos tempo para as ilusões diárias. Somente assim nos tornaremos heróis, e se a dor vier bater à porta, através da doença, da perda de alguém querido e outras formas que ela achar que nos ajudará no processo de iluminação, que possamos sem hesitação oferecer nossa cota de sacrifício, sem achar que a vida está nos cobrando demais, porque aprendemos que somos heróis!

Silvana Prado

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