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Equilibrio Corpo e Alma entrevista

Entrevista: Patrícia Lazzaretti

Silvana – vou responder suas perguntas do ponto de vista do paciente, de alguém que sofreu do distúrbio do pânico, depressão e lidera grupos de auto-ajuda há três anos em Franca, é importante ressaltar que sou advogada, estudiosa dos assuntos relacionados a ansiedade, autora do livro “O Prisioneiro do Medo”, e editora do jornal “Mente Livre”, e que venho participando de Congressos sobre ansiedade nos Estados Unidos há dois anos em razão de meu trabalho voluntário.

Patrícia – Como uma pessoa deve proceder para encontrar o equilíbrio entre o corpo, alma e a mente?
Silvana – Depois das crises de pânico, descobri que não poderia só cuidar do corpo ou só da mente. Hoje recuperada do pânico há mais de oito anos sem crises e sem nunca ter tomado medicamento ou feito terapia, costumo dizer que nosso bem estar é como uma mesa de três pernas, ou seja, são necessários três itens para o seu bem estar: exercícios, que limpam o corpo e ajudam a liberar substâncias que causam bem estar como endorfinas, ajuda a melhorar a auto-estima, e nos dá uma resistência física nos preparando inclusive para uma velhice mais saudável.
A segunda perna da mesa é a meditação. Meditação é nosso momento de silêncio para ouvirmos Deus ou a um poder superior como diz o AA. Na meditação limpamos a alma, limpamos a mente de tudo que seja desnecessário, no silêncio entramos o Reino de Deus que está dentro de nós, no silêncio aprendemos a exercitar o perdão, de que necessitamos tanto de dar e receber. Não conheço nada no mundo que mude comportamento, idéias, como a meditação. O equilíbrio passa a ser uma necessidade, e cada vez que você sai dele, percebe que precisa retornar logo ao estado de paz interior, a maior conquista do ser humano. Respeito todo tipo de terapia, mas falar não muda comportamento, então precisamos aprender a escutar a sabedoria que vive dentro de cada um de nós. Em termos mais científicos não existe nada no mundo que consiga nos trazer a um estado de relaxamento tão profundo – de maneira consciente – como a meditação. Nestes momentos de relaxamento profundo nosso corpo faz o que ele sabe fazer: se auto-recupera.
Meditação não tem nada a ver com religião é fácil de fazer, e ainda, que tenha sido usada no início para o crescimento espiritual, hoje seus benefícios são reconhecidos pela ciência como altamente restauradores do corpo e da mente.
A terceira perna da mesa é a vigilância mental. Não foi a toa que Jesus nos disse: Orai e Vigiai. Não basta orar, é preciso cultivar pensamentos positivos, enxergar a realidade como ela é, sem fantasiar o positivo nem o negativo. A neurolingüística e a Terapia Cognitivo Comportamental têm ensinado como fazer isto de maneira mais profunda, mas pessoas no grupo tem se recuperado de maneira fantástica usando técnicas simples que são ensinadas.

Patrícia – Como alguém que trabalha muito e tem pouco tempo para si pode se cuidar?
Silvana – Quem trabalha muito e não tem tempo para si, está com um problema sério, pois se sua saúde é seu bem mais precioso, está jogado fora o tesouro maior. E o corpo cobra isto, vem á doença nos convidando a refletir a parar. Alguns aprendem rápido outros vão passando de uma doença para outra, até que chegam no limite, e têm de parar por razões mais sérias.
Todos temos de achar tempo para cuidar de nós, porque se você ficar doente, não vai poder ficar tão ocupado mais. Poderá perder o emprego, não poder administrar um negócio próprio como muitas pessoas com depressão. Nosso corpo é um templo sagrado, morada de nosso espírito, e deve ser cuidado com tal respeito. Uma hora por dia de exercícios vai te capacitar a trabalhar muito melhor, esta hora será compensada no seu rendimento.
A meditação basta 20 minutos pela manhã e 20 minutos pela noite, tem gente que fica na TV até a madrugada, mas não tem tempo para meditar. É só uma questão de prioridades, de necessidades. Nós vemos nos grupos muita gente que depois de chegar no fundo do poço com crises de pânico ou depressão acham tempo para tudo. É tudo uma questão de escolhas. Eu ensino meditação, coordeno dois grupos de auto-ajuda, advogo, sou editora do jornal “Mente Livre”, cuido da casa, implantamos um programa no grupo para pessoas com AIDS e câncer, e não fico mais de três dias sem fazer exercícios e não durmo nem acordo sem minha meditação.

Patrícia – Em meio à vida moderna, que é bem agitada e estressante, como alguém que já conquistou um certo equilíbrio emocional pode proceder para mantê-lo e não cair em crise novamente?
Silvana – Como já disse, para mim – e a revista Veja de alguns meses atrás enfocou o tema – e a meditação é sua maior garantia de saúde física e mental. Mas sabemos também que a dieta bem balanceada vai influenciar, é o ABCD: evitar carnes vermelhas, comer frutas verduras e beber muita água. Evite cafeína e álcool (sobra muito prazer na vida ainda acredite). Tire tempo para relaxar no final de semana, desligue do trabalho, desligue o celular, vá fazer algo que gosta, passe tempo como pessoas que ama.
Tudo que precisamos para ser saudável está a nossa volta de graça na natureza e nas pessoas. Não precisa ir par hotel 5 estrelas, vá passar o dia a beira de uma cachoeira, pesque, faça uma leitura interessante. Enfim cultive seu espírito e sua espiritualidade.

Patrícia - Até onde a bebida e o cigarro podem prejudicar alguém, emocionalmente falando?
Silvana – Esta é um pergunta muito difícil de ser respondida por uma pessoa leiga como eu, e de novo, ressalto que respondo de acordo com minha experiência de ter vivido por anos com dependentes químicos, pelo que aprendi em leituras, cursos, etc. Cada pessoa reage diferente ao álcool e ao cigarro. Existe um estudo interessante mostrando que pessoas religiosas, sofrem de maneira menos intensa os efeitos do álcool e do cigarro. De acordo, com a organização Mundial de saúde, os efeitos do álcool são piores do que os do cigarro. Os dois no entanto causam dependência para a maioria das pessoas, as desestabiliza física e emocionalmente. O efeito do álcool para alguns é devastador, muitos perdem empregos, famílias em função da dependência, outros morrem por causa disto. Cigarros todos sabem a causa do câncer no pulmão. No livro o Refém Emocional de Cameron Leslie escreve: “Em seu esforço para eliminar a dor de certas emoções desagradáveis ou para conseguir um estado de prazer, algumas pessoas tornam-se escravos das drogas (...) Quem as utiliza está fazendo um esforço deliberado para mudar ou ter acesso a certas emoções. Porém, no caminho tornam-se reféns das drogas. “Por ai você pode avaliar os efeitos no emocional...

Patrícia - A auto-estima pode ser o tendão de Aquiles de alguém, ou seja, sem ela é impossível dar qualquer passo em busca do bem estar físico e mental?
Silvana – No último Congresso de que participei em Março de 2002 nos Estados Unidos, foi falado por alguns especialistas, que toda pessoa que está com distúrbios de ansiedade ou de humor (depressão, bipolar) tem como raiz a baixa auto-estima. Não sei se sem ela é impossível dar qualquer passo para melhorar, acho que a vida nos ensina e convida ao progresso de muitas maneiras, uma pessoa com baixa auto-estima pode, por exemplo, ler um livro que tenha uma linda mensagem, percebe que tem algo de errado com ela e busca uma terapia que a ajudará a trabalhar sua imagem. Marv Fremerman, que trabalha nos Estados Unidos junto a empresas e tem um livro que estou traduzindo para o português chamado Dinâmicas da Auto-estima, por sinal excelente, diz o seguinte: “Quando vejo os efeitos negativos que a baixa auto-estima pode causar – poucas conquistas, doenças mortais, abuso de drogas e outros – fico abismo que alguém escolha sofrer com isto, no entanto, a escolha entre alta ou baixa estima é nossa”. Então podemos sempre escolher qual será nosso destino. Acredito firmemente que nascemos para ser felizes e se buscarmos com sinceridade em nossa mente o caminho da felicidade nós o encontraremos, e como dizem os budistas. Poucos encontram o caminho... No entanto ele está bem a nossa frente.

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