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Artigos

Lidando com câncer

Fonte: European Câncer Conference, ECCO 11
Day 1 - October 21, 2001

Robert S. Mocharnuk, MD
Introdução
Os acontecimentos de 11 de setembro no World Trade Center e no Pentágono tiveram efeitos diferentes em pessoas no mundo todo. Dr. David Spiegel,[1] Professor de Psiquiatria na Universidade de Stanford na Califórnia, diz que as reações são comparáveis àquelas tidas por pacientes com câncer, em qualquer fase da doença.
Câncer é caracterizado por um conjunto de estresses que incluem o medo, o diagnóstico do câncer, decisões referentes ao tratamento, o confronto com a própria mortalidade, limitações físicas, dores emocional e física e, mudanças no ambiente social e familiar.
O oncologista, diferentemente do profissional de outras especialidades médicas que ajudam o paciente a ficar bem, com sua intervenção faz o paciente ficar pior (não importando que no final o resultado seja bom), o que o coloca em posição de desvantagem, complicando a interação paciente/médico.
Muitos pacientes com câncer se comportam de uma maneira que lembra o Distúrbio de Estresse Pós-Traumático. Estudos comparativos sugerem que pacientes com câncer reagem da mesma maneira que vítimas de um ataque sexual. A depressão resultante é similar em natureza, e é pior quando enfrentada sozinha. A população em geral tem de 3 a 6% de depressão, mas entre pacientes com câncer o número aumenta para 12%. Depressão clínica aparece em um entre cada cinco pacientes terminais, e 60% daqueles que solicitaram assistência para suicidar estão deprimidos. Isto levanta a questão de que os médicos deveriam tentar tratar a depressão ao invés de ajudar o paciente a suicidar. (Assistência ao suicídio é uma prática usada/debatida/combatida nos Estados Unidos)

Terapia em Grupo

Embora existam diversos tratamentos psico-sociais, em grupo ou individuais Dr. Spiegel focou seus estudos, na terapia de grupos de apoio. Os grupos são usados para criar laços entre pacientes, permitindo discussões de problemas comuns. Os pacientes percebem no grupo que as suas reações são normais e aprendem a encontrar sentido nas próprias tragédias. Enfim, escolhem vencer o isolamento social causado pela doença, ajudando outros a se sentirem melhores através de troca de experiências. Este modelo de grupo encoraja expressar emoções, ao invés de tentar suprimir.
Nesse ambiente os pacientes são ajudados a enfrentar claramente seus sentimentos e assim conseguem modificá-los com a ajuda do grupo. A emoções devem ser motivo de proximidade e não de isolamento. Aprendem também que não são culpados pela doença e que não têm de ficar fazendo cara de felizes.  Enquanto as pessoas são treinadas a tratar o choro como se fosse um sangramento, ou seja - pressione para parar – a dinâmica do grupo permite expressar as mais profundas tristezas. Estudos comprovam que aqueles que retraem o sofrimento sofrem mais altos níveis de depressão do que aqueles que o expressam.
O medo da morte é discutido, inclusive o processo da morte, a separação dos entes queridos, etc. Estratégias para lidar com as dificuldades que aparecerem são propostas e os problemas existenciias também podem ser discutidos. Como resultado, prioridades são colocadas, especialmente para aqueles que têm pouca esperança de vida. Alguns, tendo pouco tempo, desenvolvem um projeto, um objetivo a alcançar, uma tarefa a ser cumprida, um evento importante para participar.
Os efeitos do câncer na família são reconhecidos e métodos para lidar com os problemas são discutidos. Participantes são ensinados a perceber as diferenças entre o ponto de vista que um homem e uma mulher têm sobre o mesmo problema.
Também são esclarecidos os seguintes pontos: o que esperar do médico e como lidar com ele. Comunicação, controle e carinho são elementos essenciais. O médico deve utilizar uma linguagem simples quando falar com o paciente, olhando nos olhos, tomar conhecimento de seu sofrimento, expressar seu carinho, permitir ser interrompido durante as discussões e responder de maneira sincera. A presença de membros da família ou amigos deve ser permitida durante discussões importantes. O médico deve ainda identificar as áreas onde os pacientes podem tomar decisões e encorajá-los a fazer estas escolhas.
Tratamentos alternativos também devem ser discutidos. Finalmente, os pacientes aprendem maneiras de controlar sintomas do câncer e do tratamento. A auto-hipnose tem mostrado diversos estudos, reduz a dor causado pelo medicamento em até 50%. Pacientes também são ensinados a reconhecer a diferença entre estratégias boas e ruins para lidar com a doença.
A terapia de Grupo funciona? Evidências
Em um estudo envolvendo 103 de 125 mulheres, o grupo que participava do grupo de apoio teve uma diminuição grande na escala de efeitos de impacto no paciente (por exemplo, Distúrbio de Estresse Pós-Traumático) quando comparado com o grupo que não recebeu apoio.Um outro estudo mostrou que pacientes com câncer de mama que receberam tratamento em grupo de apoio por 12 semanas apresentaram alta redução no nível de ansiedade. Outro estudo de Spiegel mostrou que participantes de grupos de apoio vivem mais e com melhor qualidade de vida.
Participantes de grupos geralmente melhoram o auto-cuidado, desenvolvem um comportamento mais saudável, e aumentam a aceitação em relação ao tratamento. Existem também mudanças observadas na parte biológica, especificamente neurológica, imuno-regulatória e endócrina.

  1. Spiegel D. Psychological aspects of câncercare. Eur J Câncer. 2001;37(suppl 6):149. Abstract 546.

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